Para senadores, discurso reflete pressão do colegiado que investiga condução da pandemia e de pressões das ruas
Julia Chaib / Folha de S. Paulo
BRASÍLIA - O grupo majoritário da CPI da Covid, formado por sete senadores, afirmou em nota que "a inflexão" do presidente Jair Bolsonaro celebrando vacinas em pronunciamento em cadeia nacional nesta quarta-feira (2) ocorreu com "atraso fatal e doloroso".
"O Brasil esperava esse tom em 24 de
março de 2020, quando inaugurou-se o negacionismo minimizando a doença, qualificando-a
de 'gripezinha'", escreveram os senadores.
Nesta quarta, Bolsonaro, em rede de rádio e
televisão, afirmou que, neste ano, todos os brasileiros que quiserem serão
vacinados, destacou o avanço do PIB (Produto Interno Bruto) e voltou a criticar
políticas de isolamento social.
"Neste ano, todos os brasileiros, que
assim o desejarem, serão vacinados", disse o presidente. A declaração
ocorre no momento em que o governo tenta contornar o desgaste causado causado
pela CPI da Covid no Senado e por protestos de
rua contra Bolsonaro.
"Um atraso de 432 dias e a morte de
quase 470 mil brasileiros, desumano e indefensável. A fala deveria ser
materializada na aceitação das vacinas do Butantan e da Pfizer no meio do ano
passado, quando o governo deixou de comprar 130 milhões de doses, suficientes
para metade da população brasileira", afirmaram os senadores após o
pronunciamento.
O grupo afirmou que o presidente optou por
desqualificar vacinas "sabotar a ciência, estimular aglomerações,
conspirar contra o isolamento e prescrever medicamentos ineficazes para a
Covid-19".
No pronunciamento, Bolsonaro, embora tenha
iniciado o discurso lamentando as mortes pela Covid, voltou a reclamar das
medidas de distanciamento social adotadas por governadores e prefeitos.
"O nosso governo não obrigou ninguém a ficar em casa, não fechou o
comércio, não fechou igrejas ou escolas e não tirou o sustento de milhões de
trabalhadores informais", afirmou o presidente.
Para os senadores, o pronunciamento de
Bolsonaro é consequência do trabalho da CPI e da "pressão da sociedade que
ocupou as ruas contra o obscurantismo".
"Embora sinalize com recuo no
negacionismo, esse posicionamento vem tarde demais. A CPI volta a lamentar a
perda de tantas vidas e dores que poderiam ter sido evitadas."
A nota é assinada pelos seguintes
senadores: Omar Aziz (PSD-AM), presidente da CPI, Randolfe Rodrigues (Rede-AP),
vice-presidente; Renan Calheiros (MDB-AL), relator.
Assinam também, em apoio: Tasso Jereissati
(PSDB-CE), Otto Alencar (PSD-BA), Humberto Costa (PT-PE) e Eduardo Braga
(MDB-AM), membros titulares; e Alessandro Vieira (Cidadania-SE) e Rogério
Carvalho (PT-SE), suplentes. A CPI tem 11 titulares.
LEIA A ÍNTEGRA DA NOTA DOS SENADORES DA CPI
DA COVID:
NOTA PÚBLICA
A inflexão do Presidente da República
celebrando vacinas contra a Covid-19 vem com um atraso fatal e doloroso. O
Brasil esperava esse tom em 24 de março de 2020, quando inaugurou-se o
negacionismo minimizando a doença, qualificando-a de ‘gripezinha’.
Um atraso de 432 dias e a morte de quase
470 mil brasileiros, desumano e indefensável. A fala deveria ser materializada
na aceitação das vacinas do Butantan e da Pfizer no meio do ano passado, quando
o governo deixou de comprar 130 milhões de doses, suficientes para metade da
população brasileira. Optou-se por desqualificar vacinas, sabotar a ciência,
estimular aglomerações, conspirar contra o isolamento e prescrever medicamentos
ineficazes para a Covid-19.
A reação é consequência do trabalho desta
CPI e da pressão da sociedade brasileira que ocupou as ruas contra o
obscurantismo. Embora sinalize com recuo no negacionismo, esse reposicionamento
vem tarde demais. A CPI volta a lamentar a perda de tantas vidas e dores que
poderiam ter sido evitadas.
Omar Aziz, presidente
Randolfe Rodrigues, vice-presidente
Renan Calheiros, relator
Membros efetivos:
Tasso Jereissati
Otto Alencar
Humberto Costa
Eduardo Braga
Suplentes:
Alessandro Vieira
Rogério Carvalho
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