Valor Econômico
Pesquisas para presidente estão em ritmo
diário
Nos últimos cinco dias, cinco pesquisas de
intenção de voto em 2022 foram divulgadas. Duas delas encomendadas por
financeiras e uma por uma entidade empresarial, um indicativo do alto interesse
em escutar o que anda nas cabeças, anda nas bocas, o que gritam nos mercados,
para relembrar Chico Buarque. Já estamos vivendo na prática, portanto, uma
temporada eleitoral.
Quem diz que o cenário só deve se definir
em meados do próximo ano parece despistar. Talvez seja o caso do presidente
Jair Bolsonaro, que muito fala em ruptura da institucionalidade, em não haver
eleições, se não forem “eleições limpas”. Este, entretanto, não é o cenário com
que a maioria dos analistas trabalham.
No momento em que esta coluna era escrita, foi divulgado também o Datafolha, ainda só com a avaliação de governo. Mostrava Bolsonaro com 51% de desaprovação. Que Bolsonaro tem potencial para recuperar popularidade até o segundo semestre do próximo ano é incontroverso. Os levantamentos de agora permitem medir de onde se parte e até onde se pode chegar.
As pesquisas CNT/MDA e Genial/Quaest, com
entrevistas presenciais e domiciliares, mostram Bolsonaro com 26,6%, no
primeiro caso; e 28% no segundo, em seus cenários base. Os levantamentos do
Poder360 e da XP/Ipespe, feitos por telefone, apontam o presidente com 29% no primeiro
caso e 26% no segundo. Há uma convergência independentemente do método
estatístico na maior parte dos levantamento. Nas simulações de segundo turno,
isso fica mais claro: Bolsonaro vai de 33% (Genial/Quaest) a 35% (XP/Ipespe),
quando o adversário é o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que varia de
49% (XP/Ipespe) a 54% (Genial/Quaest). Com outra metodologia, na qual as
entrevistas telefônicas são assistidas por computador, a Exame/Ideia Big Data
mostra diferença menor: Lula fica com 46% e Bolsonaro com 34% no segundo turno.
No primeiro, o petista alcança 41% e o presidente, os mesmíssimos 34%.
A largada de Bolsonaro não é baixa. É um
pouco menor da que Lula teve um ano antes da eleição de 2006, quando obteve a
recondução. E fica um pouco abaixo da de Dilma Rousseff em julho de 2013, um
ano antes de sua reeleição e logo depois do vendaval das manifestações de
junho. Em 2005, no Datafolha, Lula teve 36% na pesquisa de 5 de julho. O então
presidente estava em um péssimo momento, já que três semanas antes havia
eclodido o escândalo do mensalão. Em 2013, Dilma ficou com 29% no Datafolha e
chegou a 37,2% na pesquisa da Sensus na última semana daquele junho..
A questão que torna a situação de Bolsonaro
complicada é que não havia, nas sucessões anteriores, um adversário que
captasse a revolta contra o governo. Agora há. Lula aglutina até o momento, o
antibolsonarismo, e vai de 38% a 43% nas sondagens. E a grande trava à terceira
via é não conseguir capturar este eleitor. Em 2005, nenhum oponente de Lula nas
pesquisas conseguia mais do que 15%. Em 2013, nenhum desafiante de Dilma
alcançava mais do que 20%.
Para Mauricio Moura, da Ideia Big Data,
outro dado pouco alvissareiro para o presidente é a rejeição que se consolida.
Sempre se soma a classificação de “ruim” e péssimo” para medir a desaprovação
do governo. As últimas pesquisas indicam uma migração do “ruim” para o nível
“péssimo”. “Isso indica que essa massa eleitoral que desaprova Bolsonaro tem um
núcleo que não tem volta”, comenta.
Moura diz, entretanto, que os sinais de que
já se chegou ao fundo do poço para Bolsonaro são grandes. As notícias sobre
possível corrupção no governo ou na própria família presidencial consolidam
rejeição, mas não devem sangrá-lo mais. O eleitor sensível a esta questão já o abandonou
no episódio de demissão do ex-ministro da Justiça Sergio Moro.
Para Moura, o presidente hoje vive de três
pilares: o primeiro é o mais ideológico, de homens, dos grandes centros
urbanos, com um sentimento anti-institucional exacerbado. O segundo é neopentecostal,
da classe C, forte nas periferias. O terceiro é o das regiões que vivem do
agronegócio, o eleitor do Norte, Centro-Oeste e interior do Sul. A chance de
irem com ele até o fim é grande.
Para Paulo Gama, analista da XP, a rejeição
consolidada está produzindo por agora um fenômeno de descolamento. A percepção
de melhora da economia e do próprio controle da pandemia avançam em paralelo
com o aumento do repúdio a Bolsonaro. Neste momento, vacinação acelerada e
indicadores econômicos em recuperação não entram na esfera política.
Lula, que absorve o antibolsonarismo como
um mata-borrão a tinta, deve tentar administrar a vantagem. Já conseguiu tudo
que podia e, se evitar grandes perdas, estará no segundo turno. Uma de suas
vulnerabilidades, a imagem da corrupção, está se tornando também a chaga de seu
maior rival. O eleitor que preza uma renovação ética na política vive o mato
sem cachorro. Pode migrar para a abstenção ou a anulação do voto.
É difícil medir o potencial da terceira
via. As intenções de voto a favor de Ciro Gomes e João Doria são as que
apresentam maior variação, porque dependem da lista apresentada. O recall ajuda
Ciro, sempre à frente do tucano. Na batelada dessa semana, ficou com 6% na
CNT/MDA e Poder 360 e com 13% na Exame/Ideia Big Data. Doria varia de 8%, na
última a apenas 2% na do Poder 360.. Ciro percebeu que há um bolsonarismo
arrependido que rejeita Lula e tenta ganhar esse voto,, daí os mísseis que
dispara quase diariamente contra o petista.
O problema central de Ciro é mudar uma
imagem que demorou 20 anos para construir, a de político que está na
centro-esquerda, e não na centro-direita. A única saída do labirinto para Ciro
está à direita. Mas Ciro caminhou à esquerda nas últimas quatro eleições. O
eleitor ansioso pela terceira via não se reconhece no pedetista. Um processo de
destruição da imagem de Lula poderia beneficiá-lo, mas não é isso que está em
pauta nesse instante e não há sinais nessa direção até o momento.
Convém prestar atenção ao governador gaúcho
Eduardo Leite, que atraiu mídia nos últimos dias ao assumir-se homossexual e só
foi testado pela XP/Ipespe,Genial/Quaest e Exame/Ideia Big Data. Obteve 4% nas
duas primeiras e 5% na última.. É de longe o menos conhecido dos
pré-candidatos. Eduardo Campos, em julho de 2013, tinha 5,2% em pesquisa. Um
ano e um mês depois, ao morrer, estava na faixa de 13% ou 14%. Tornara-se
competitivo.
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