Folha de S. Paulo
Do "Quem manda sou eu!" ao mimimi
de "Não tenho como saber o que se passa nos ministérios!"
Você se esbaldou com a notícia na semana
passada. O bombado
deputado federal Daniel Silveira (PSL-RJ), ao ver a PF às suas
portas para prendê-lo por várias e graves lambanças, tentou fugir pulando o
muro de sua casa em Petrópolis. Mas, ao completar o salto, descobriu que os
homens já o esperavam no outro lado do muro. Com agilidade quase circense,
pulou-o de volta, sendo afinal abotoado. Uma sequência digna de comédia do
cinema mudo, só faltando Sua Excelência ter voltado por um buraco no muro e
passado por entre as pernas do policial.
A ideia de um deputado federal pulando muros como um ladrão de galinha deixa mal o Congresso e pior ainda o governo que ele defende —não por acaso, o de Jair Bolsonaro. Mas é perfeita para descrever o próprio governo, repetente em pular muros e pulá-los de volta diante das suspeitas, acusações e provas de suas sujeiras. Inúmeros pilantras que o compõem já tiveram oportunidade de fazer isso, dizendo e desdizendo-se ao se verem flagrados. O pulo de volta, nesses casos, é alegar um engano, atribuindo-o a um bagrinho escalado para o sacrifício.
O grande muro, no entanto, acaba de ser
pulado de volta por Bolsonaro, e resta ver o que dirão seus seguidores. Eles
devem se lembrar de duas de muitas falas iguais de seu imbrochável herói: “Quem
manda sou eu! Eu sou um presidente que assume ônus e bônus!” (junho de 2019). E
“Quem manda sou eu! Vou deixar bem claro! Eu dou liberdade para os ministros
todos, mas quem manda sou eu! Quando vão nomear alguém, falam comigo! Eu tenho
poder de veto, ou vou ser um presidente banana?” (agosto de 2019).
Há dias, quando o país sentiu indisfarçável
cheiro de rato numa compra de vacinas por R$ 1,6 bilhão pelo Ministério da
Saúde, Bolsonaro apelou para um covarde mimimi: “Não
tenho como saber o que acontece nos ministérios!”.
Ao pular o muro de volta, denunciou-se. É um presidente banana.
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