O mais completo
relatório publicado recentemente pelo Painel Intergovernamental de Mudanças
Climáticas (IPCC), que congrega a comunidade científica mundial, nos alerta e
reafirma as preocupações dos relatórios anteriores, desde 1990, apontando danos
irreversíveis no presente e no futuro do Planeta em função da intervenção
humana a nível global, continental e regional.
As conclusões e
os cenários do referido Relatório são alarmantes. Deveria ser objeto de
preocupação de todos nós, da cidadania, da sociedade brasileira e mundial.
Segundo o
Relatório, os níveis de concentração de dióxido de carbono (CO2) na atmosfera
são maiores do que em qualquer época nos últimos dois milhões de anos. Ainda em
relação aos níveis de concentração de metano e dos gases de efeito estufa na
atmosfera são os maiores já registrados pelo menos nos últimos 800 anos. Alerta
para a necessidade de medidas efetivas e urgentes a ser implementadas e os
danos irreversíveis já causados aos ecossistemas a nível mundial, continental e
regional. O aumento da temperatura global vem trazendo acontecimentos
climáticos extremos como secas, inundações e ondas de calor atingindo as
populações e os ecossistemas do Planeta.
Assim, o
aquecimento aumentou a temperatura global nos últimos 50 anos provocando o
degelo e o consequente aumento do nível do mar, impactando os ecossistemas do Planeta e a própria humanidade.
O aquecimento global impacta o cotidiano das populações em todo o mundo: os vários eventos climáticos se combinam, muitas vezes de maneira trágica, trazendo mortes, sofrimentos e impotência às populações afetadas diretamente pelas mudanças climáticas em curso.
O imperativo das
mudanças.
O sinal vermelho
do IPCC frente às mudanças climáticas conclama a consciência crítica e o
espírito de sobrevivência da humanidade colocando de maneira imperativa a
tomada de medidas urgentes no caminho de uma reorientação de valores de ser e
de ter da sociedade contemporânea.
Coloca a
necessidade de mudanças comportamentais da sociedade frente à complexidade dos
desafios a serem enfrentados em função do aquecimento global no caminho de
novas relações a serem construídas, centradas na vida e na preservação da natureza.
A construção dessas alternativas, através do dialogo e da cooperação permanentes, é o desafio colocado às dificuldades que estamos vivendo na sociedade frente ao aquecimento global e à própria pandemia que desnudou a insustentabilidade do mundo em que vivemos
O que temos a
dizer como sociedade brasileira e mundial?
Nesse contexto é
que devemos avaliar o Relatório recém divulgado do IPCC em relação às mudanças
climáticas e às medidas urgentes a serem tomadas a nível global, nacional e
regional . Qual a responsabilidade dos países mais desenvolvidos do mundo
frente aos desafios colocados neste Relatório, particularmente os EUA, a China,
o G7, a Comunidade Europeia e a Rússia, importantes protagonistas da cena
política e econômica mundial, causadores de uma boa parte desse aquecimento global?
Como relacionar
os desafios mais amplos colocados pela pandemia e as medidas efetivas a favor
do desaquecimento global?
O isolamento social
proporcionado pela pandemia está nos aproximando e nos fazendo pensar e agir de
outra maneira, entendendo melhor as nossas limitações e fragilidades
individuais e coletivas. Há uma preocupação maior para o que nos faz
humanidade: a cooperação, a solidariedade nos desafia em toda parte no
enfrentamento das crises econômica, social e ambiental que estamos vivenciando
já no segundo ano de pandemia.
As mudanças que
estão acontecendo no mundo do trabalho e da cultura, a vida em home office,
estão impactando de maneira significativa o nosso cotidiano de trabalho e
lazer, a forma de viver de cada um de nós. Qual a dimensão dessas mudanças?
Como aproveitar essa crise planetária trazida pela pandemia no caminho dessas
urgentes e necessárias transformações no caminho de uma nova economia de baixo
carbono, centrada em uma matriz industrial e energética baseada em energias
renováveis a favor de uma sociedade sustentável?
Nesse contexto é
que devemos discutir o aquecimento global e as mudanças a serem realizadas a
nível mundial e em cada país, se quisermos enfrentar efetivamente a questão das
mudanças climáticas durante e pós-pandemia. A educação, a ciência e a tecnologia
são fundamentos dessas mudanças inadiáveis e devem estar a favor da vida, de
novas relações a serem construídas entre a humanidade e a própria natureza.
A realidade mundial
e brasileira grita a favor dos excluídos, exigindo mudanças. Coloca nas ruas e
nas redes sociais a tragédia social de milhões de pessoas, excluídas das
conquistas sociais elementares: trabalho, alimentação, moradia,
saúde-saneamento básico, educação e mobilidade. A pandemia e a crise climática
alertam a sociedade contemporânea que as vidas importam, independente da cor da
pele, das convicções políticas e religiosas e do lugar que cada ser humano
ocupa na escala social.
Estamos
desafiados como humanidade. Devemos no nosso cotidiano incorporar práticas
sustentáveis, exigindo dos governantes e da cidadania mudanças comportamentais
que nos transforme. O que estamos fazendo cada um de nós a favor da vida e da
preservação da natureza? Podemos fazer mais?
O futuro da
sociedade pós-pandemia deve e pode ser sustentável, superando com a urgência
devida as relações de poder e de funcionamento dos organismos multilaterais a
exemplo da ONU, FMI, Banco Mundial, OIT, dos blocos econômicos regionais e em
cada sociedade nacional, no caminho de novas relações entre os povos,
construindo uma cultura a favor da democracia e da paz que nos leve à almejada
sustentabilidade política, econômica, social e ambiental.
Nesse contexto, o
enfrentamento do aquecimento global e seus impactos na própria humanidade deve
ser o centro das preocupações das organizações governamentais e não
governamentais, a nível nacional e mundial.
Portanto, os
questionamentos, desafios e possibilidades de mudanças no caminho de uma
sociedade sustentável baseada em uma economia de baixo carbono estão colocados
para a sociedade brasileira e toda a humanidade. Há espaço para a construção de
novas relações políticas, econômicas e sociais no Brasil e no mundo preservando
o ser humano nas suas relações entre si e com a própria natureza.
Assim, as
condições estão dadas para a transição almejada, com cenários plausíveis a
serem escolhidos, como acontece nos momentos cruciais da história da
Humanidade.
Seremos capazes?
*Professor Doutor, da Oficina da Cátedra da UNESCO em Sustentabilidade da UFBA e do Conselho do Instituto Politécnico da Bahia
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Seremos capazes?
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