Folha de S. Paulo
O que diria Policarpo Quaresma, maior
patriota da
Se tivesse escapado a seu triste fim, Policarpo
Quaresma jamais abandonaria sua casa em São Januário para
engrossar o "protesto" no Sete de Setembro. Logo nas primeiras
páginas da obra-prima de Lima Barreto, o personagem é apresentado como
patriota. Um patriota bem diferente dos que avacalham os Poderes para salvar a
pele golpista de Bolsonaro.
Nem de longe passava pela cabeça do
major Quaresma promover
uma guerra de fuzis em nome de Deus e da família contra comunistas imaginários.
Seus delírios de Quixote suburbano eram mais modestos e não vinham embalados na
camisa amarela com escudo da CBF. Aliás, se pensasse como seu criador, ele
deveria odiar futebol, o "jogo do pontapé" trazido por estrangeiros.
Policarpo Quaresma idealizava um Brasil melhor e mais justo. Uma República que adotasse como língua oficial o tupi-guarani —sem imaginar que no futuro os índios seriam demonizados como arqui-inimigos do agronegócio— e um governo capaz de pelo menos eliminar a praga das saúvas. As formigas cabeçudas haviam dizimado seu experimento de agricultura doméstica, com o qual sonhava matar a fome do povo, a mesma fome que hoje atinge quase 20 milhões de brasileiros.
Veio a Revolta da Armada e o humilde major
encheu-se de brios e esperanças nacionalistas. Enviou o célebre telegrama a
Floriano Peixoto: "Sigo já!". No entanto, ao conhecer o Marechal de
Ferro identificou nele "um ar de malfeitor", um político sem
interesse verdadeiro pelo país.
Antes de ser morto por soldados de
Floriano, Policarpo Quaresma questionou a causa à qual se dedicara: "Iria
morrer, quem sabe se naquela noite mesmo? E que tinha ele feito de sua vida?
Nada. Levara toda ela atrás da miragem de estudar a pátria, por amá-la e
querê-la no intuito de contribuir para sua felicidade e prosperidade (...)
Desde os 18 anos que o tal patriotismo lhe absorvia e por ele fizera a tolice
de estudar inutilidades".
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