Folha de S. Paulo
Não estamos na Guerra Fria, quando bastava
ser anticomunista para ter o apoio dos EUA em golpes
Ele já deu pistas sobre suas intenções
quando declarou ter três alternativas para o futuro: "estar preso,
ser morto ou a vitória". Dessas, a prisão me parece hoje a mais
provável, mas o presidente há de preferir a terceira. Resta indagar o que
seria, a essa altura, uma vitória para Bolsonaro.
Seu cenário de sonhos seria ver, depois de
um discurso eletrizante neste 7 de Setembro, a população e os militares
marchando ombro a ombro sobre o STF. Em seguida, ele mandaria prender juízes e
assumiria poderes especiais, que lhe permitiriam governar sem as
inconveniências impostas pelo sistema de repartição de Poderes. Só que isso não
vai acontecer. Não estamos mais no tempo da Guerra Fria, em que bastava ser
anticomunista para ter o apoio dos EUA em golpes, e a taxa de rejeição popular
a Bolsonaro é mais que o dobro da sua taxa de aprovação.
O presidente também poderia considerar-se vitorioso numa situação em que as manifestações dessem lugar a um quadro de convulsão social, que seria usado para baixar algum dos estados de exceção previstos na Constituição. Esse é um cenário menos irrealista, mas ainda assim improvável. Tanto o estado de defesa como o de sítio dependem de aprovação do Congresso, e os parlamentares do centrão são espertos o suficiente para perceber que seria contra seus interesses existenciais chancelar esse tipo de intervenção.
Acredito que, sem acontecimentos mais
dramáticos no Dia da Pátria, a única vitória que Bolsonaro poderá extrair serão
imagens de uma avenida Paulista razoavelmente cheia. Não parece muito, mas, num
mundo em que versões prevalecem sobre fatos, é o que basta para ajudar a
narrativa de líder popular que teve sua administração inviabilizada por forças
ocultas. É uma justificativa para a derrota que deixa espaço para eventual
retorno. Lembra Donald Trump.
Mesmo que nos livremos de Bolsonaro no ano
que vem, ele poderá nos assombrar por um bom tempo.
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