O Globo
Não faltam motivos para a preocupação com o
dia de hoje. Ele foi tão politizado que o “7 de Setembro” deixou de ser o
festivo ato cívico de comemoração de um de nossos maiores feitos históricos
para se transformar em apoio às belicosas intenções do presidente.
Enquanto instituições da República, líderes
políticos, empresários e banqueiros se uniram em favor da pacificação do tenso
ambiente político, Jair Bolsonaro atiça suas milícias em sentido contrário com
provocações e ameaças, como classificar as manifestações de “ultimato” a dois
membros do STF.
Em vez de revidar, a Corte está respondendo com uma atuação de bastidores, dialogando com emissários do Congresso para reduzir o clima de tensão instalado. Há PMs apoiando e até pastor evangélico recorrendo ao Apocalipse, ao fim do mundo, para convocar os fiéis a comparecer aos atos bolsonaristas.
Autoridades mais precavidas se prepararam
contra uma possibilidade de golpe, embora as agitações de agora não devam
passar de um ensaio, não de uma tentativa, o que não impedirá o efeito
demonstração, isto é, a baderna. Dos governadores, só dois autorizaram a
participação de PMs — os do Distrito Federal e do Rio Grande do Sul. Pelo menos
oito ameaçam punir.
Bolsonaro pretende “usar da palavra na
Esplanada e, logo depois, ocupar um carro de som na Paulista, onde deve ter
umas 2 milhões de pessoas”. E completou: “Nunca uma oportunidade para o povo
brasileiro será tão importante quanto o dia 7”, disse, sem esclarecer:
“oportunidade” para quê?
A dúvida desaparece quando se recorda que
há pouco, diante de uma cerimônia de entrega de medalhas a atletas olímpicos
militares, ele voltou a defender que a população seja armada. “Se você quer
paz, se prepare para a guerra”, repetiu uma famosa recomendação da Roma Antiga
que alguém traduziu para ele: si vis pacem, para bellum.
Ele acha que entende “o que o povo está
querendo”, apesar da crescente queda nas pesquisas de opinião. No Datafolha,
Lula ampliou sua vantagem, com 58% contra 31%. Num segundo turno, Bolsonaro
perderia ainda para Ciro Gomes e João Doria. O percentual dos que não votariam
nele de “jeito nenhum” chega a 59%.
Se isso não bastasse para azedar o humor do
presidente, há as novas revelações sobre o famoso escândalo das rachadinhas. Um
ex-assessor do senador Flávio Bolsonaro admitiu, em entrevista ao site
Metrópoles, que era obrigado a devolver mais de 80% da remuneração que recebia
como funcionário do gabinete do ex-deputado estadual. E que a maior parte dessa
devolução era para a advogada Ana Cristina Valle, então mulher de Jair
Bolsonaro. Os filhos Carlos e Jair Renan também estão sendo investigados.
A campanha de mobilização pela internet, o
financiamento de ônibus transportando apoiadores a Brasília, o empenho do
governo, tudo isso deve levar muita gente às manifestações. Tomara que isso
funcione como calmante. Isolado e acuado, Bolsonaro parte para os desvarios.
Ele deve usar as manifestações de hoje como cortina de fumaça para encobrir os
problemas políticos e familiares que o atormentam.
Haja fumaça.
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