Blog do Noblat / Metrópoles
Fracasso em leilão de poços de petróleos
deve abrir os olhos para a importância do fator mais escasso hoje no Brasil: a
confiança
O fracasso desta semana para leiloar poços
de petróleo deve servir como uma lição para os economistas entenderem a
importância do fator confiança na geração de riqueza. Até recentemente, a
equação produtiva exigia três fatores: mão de obra, capital e recursos
naturais. Com o tempo, passou-se a tratar a tecnologia – o chamado “como
fazer”, como mais um fator de produção. O Brasil tem tecnologia e mão de obra,
mas o petróleo continua no fundo do mar e sem gerar riqueza, por falta de
capital para explorá-lo. O leilão visava superar esta falta e obter o capital
necessário, mas fracassou porque a economia moderna requer mais um fator:
confiança.
No mundo global, dispondo do fator confiança, o capital, tecnologia e até mão de obra são obtidos no mercado internacional. Este leilão deve abrir os olhos para a importância do fator mais escasso hoje no Brasil: confiança nas regras, na moeda, na sustentabilidade, seja política, fiscal, social ou ecológica. Aparentemente, as empresas não se interessaram sobretudo pelo medo de que exigências mundiais por proteção ecológica venham impedir a exploração de petróleo em áreas consideradas santuários, como Fernando de Noronha, Amazônia, Polo Norte. Além disso, o próprio petróleo não passa confiança diante do seu papel na catástrofe ambiental. Apesar de seu uso na indústria não energética, investir em petróleo nos dias de hoje começa a ser como foi investir na produção de óleo de baleia para iluminar ruas quando se descobriu a iluminação elétrica.
Este não é o único elemento que faz escasso
o fator confiança. Também degrada a confiança a volta da inflação; o
relaxamento na luta por estabilidade monetária, pobreza e violência nas ruas; a
insegurança nas regras jurídicas; a frase do presidente ameaçando a realização
das eleições e desafiando Deus a tirá-lo do trono; o baixo nível de educação; o
abandono do ensino superior e do sistema de ciência e tecnologia; a imagem de
destruidores de florestas e depredadores do Tesouro; a força de corporações
empresariais e trabalhistas para manipular as leis. Este cenário deixa o Brasil
como país pobre em confiança: a consequência é sermos párias e nossos leilões
não terem resultados esperados. E e atraem especuladores que apostam na
insegurança e acrescentam insegurança.
No próximo ano, o Brasil dá os primeiros
passos no seu terceiro centenário, carregando o peso da falta do fator confiança
em sua estrutura produtora e com fortes tentações para aumentar gastos públicos
com o presente, aumentando a inflação.
*Cristovam Buarque foi senador, ministro e
governador
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