Folha de S. Paulo
Ministro fala em corrupção e avisa que
haverá operação mirando verba de parlamentares
O chefe da Controladoria-Geral da União deu
um aviso curioso na última semana. Wagner Rosário disse não ter dúvidas de que
existem casos
de corrupção no pagamento de emendas indicadas por parlamentares e
anunciou que a Polícia Federal deve bater na porta de alguns dos envolvidos em
breve. “Todos nós vamos ficar sabendo no dia da deflagração das operações”,
declarou.
O alerta é inusitado porque um investigador não deveria dar aviso prévio de suas ações. Além disso, Rosário é ministro de Jair Bolsonaro, um presidente que sobrevive no poder graças a essas emendas. Para completar, o chefe da CGU falou sobre as suspeitas numa audiência dentro Câmara, onde essa fatia do Orçamento é partilhada.
A revelação de desvios nesses pagamentos é
um cenário considerado quase inevitável pelo governo. O ministro tentou mostrar
serviço e se antecipou para controlar os respingos de eventuais escândalos. A
história tem potencial para criar problemas políticos para Bolsonaro.
O governo ganhou fôlego no Congresso ao
entregar a deputados e senadores o controle sobre R$ 16,9 bilhões das emendas
de relator. O bônus dessa barganha é uma distribuição relativamente livre e
pouco transparente de verba nas bases dos parlamentares. Se a PF acabar com a
festa de alguns deles, o acordo para sustentar o presidente pode ficar
estremecido ou até implodir.
Uma operação que desmanche supostas
cobranças de propina em obras pagas por essas emendas também teria impacto na
imagem de Bolsonaro. O presidente pode lançar a culpa sobre os parlamentares e
empresários que forem pegos nas investigações, mas será difícil esconder o fato
de que a origem do dinheiro é o acerto
do Planalto com o centrão.
O alcance do caso dependerá de personagens
leais a Bolsonaro: o chefe da PF e o procurador-geral da República. A esperança
do governo é que a devassa nas emendas fique limitada a políticos de baixo
clero, o que restringiria os danos à governabilidade e ao discurso do presidente.
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