Folha de S. Paulo
O principal figurante de 2022 ainda está
silencioso: é o aumento da pobreza
A pobreza
aumenta, voraz, na horizontal e na vertical. Desta vez, com a pandemia como
terceiro impulso, sem por isso evitar que os dois outros sejam talvez mais
fortes do que nunca. O governo Collor foi um desastre criminoso, com a bondade
solitária de sucumbir a meio do mandato, e nem desta Bolsonaro é
capaz. Muito menos o será para deter o crescente empobrecimento. E ainda há o
descaso histórico de todas as formas de poder, público e privado, diante do
crime irreconhecido que é a injustiça social. Vírus, desgoverno, indiferença
também são Os Três Poderes.
Entre as características da economia
brasileira há muitos componentes importantes que jamais têm a honra de uma
referência, ao menos, na prolixidade dos economistas propagados nas telas e nos
papéis. Um bom exemplo é a correção salarial, na verdade, um acelerador da
pobreza existente e da indução de empobrecimento. A regra básica dada a essa
concessão dos poderosos foi não corrigir jamais.
Exceto nos anos chamados pelo reacionarismo de lulopetistas, e apesar do empenho de Sarney e Itamar, as incontáveis correções foram fixadas abaixo da correção de fato. Sem esquecer que a inflação declarada, como o PIB, é outra falcatrua antissocial, perceptível em ida a qualquer dependência do comércio usual.
O noticiário se empolga: “A volta do
emprego”. Mas, logo, “Empregos informais são 75% do total”. Três em cada
quatro. E chamar de emprego a atividade
informal é um dos muitos eufemismos consagrados no jornalismo, para
agrado adivinhe de quem. Assim como salário não é renda, falsificação verbal
oficializada, atividade informal não é emprego, é trabalho informal. Nele não
há o empregado, nem o patrão.
O crescimento da informalidade é sinal
de maiores dificuldades nas famílias alimentadas por recebimentos insuficientes,
sejam quais forem. É indicador que valeria como advertência, para problemas do
futuro e necessidade premente de ação governamental. Não no Brasil. Mesmo a
corrida aos ossos despejados, para a guerra contra a fome, causou mal-estar ou
indignação muito maiores mundo afora do que aqui, onde não faltou mais revolta
com a exibição de ossos e catadores do que a realidade que os uniu, como antes
fizeram os cães.
Entre os que se aventuram a formar o elenco
das eleições presidenciais de 2022, o principal figurante ainda está
silencioso: é o aumento da pobreza, que
já chegou aos ossos, os despejados e os próprios, e não terá quem a socorra
até lá. O auxílio de fins eleitorais, esperança de Bolsonaro, não dura um mês
dos tantos a esperar. Quem sabe, outra vez em vão.
Negócios de quadrilha
O encontro de um segundo
plano de saúde aplicador do falso tratamento de Covid,
em dezenas de milhares de clientes, é uma revelação e o seu inverso. Ambos com
gravidade criminosa.
De uma parte, o segundo caso obriga a
constatar crimes médicos como empreendimento expandido, e não exclusivo
da Prevent Senior.
Com isso, vão muito além de concordâncias entre tal criminalidade e o governo,
constituindo ampla quadrilha de corrupção científica e comercial da medicina.
Com extensões na Presidência por via do “gabinete ódio”, no sistema de
vigilância e regulação das práticas de seguro saúde e de medicina, no Conselho
Federal de Medicina, na Agência
Nacional de Saúde Suplementar, em várias secretarias do Ministério da Saúde
e em diversos ramais da vigarice comercial. Aí não houve boa-fé, nunca. Só
interesses materiais.
De outra parte, chega-se aos 600 mil morte com a certeza, agora, de que esse número é uma estimativa ainda mais precária. Além das subnotificações já pressentidas no cômputo em curso, a segunda seguradora sugere outras. Como suscita a existência de mais seguradoras e serviços médicos onde também foi adotado o falso tratamento, com decorrências letais adulteradas.
Descobrir outro caso revelou quanto e como
se desconhece, mesmo com a CPI tão bem sucedida, dos horrores da pandemia e da
parte, neles, criada pelo bolsonarismo.
Bem apropriados
A defesa postada por Paulo Guedes, no caso
de sua
firma em paraíso fiscal para driblar impostos brasileiros, estava
escrita em inglês. Muito apropriado, sem dúvida, mas de imensa falta de
compostura pessoal e de respeito, até agressiva, por parte de um ministro ao
país.
O nome COR, dado pelo presidente do Banco
Central à sua firma de fuga de capital para o exterior, homenageia o avô. São
as iniciais, invertidas, de Roberto de Oliveira Campos. Considerada a
finalidade da firma, é homenagem muito justa. Até por todas as suas
manipulações serem em inglês e em dólar.
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