Campanhas nos maiores colégios eleitorais
serão protagonizadas por candidatos com trajetória de mandatos eletivos
João Pedro Pitombo e José Matheus Santos /
Folha de S. Paulo
SALVADOR e RECIFE - As eleições
para governador nos maiores colégios eleitorais serão protagonizadas por
candidatos com experiência administrativa, trajetória de mandatos eletivos e
distantes do discurso
antipolítica das eleições de 2018, marcada pela ascensão do
presidente Jair Bolsonaro (sem partido).
Levantamento da Folha aponta que,
faltando um ano para as eleições, já são cerca de 50 pré-candidatos nos 10
estados com maior eleitorado do país. Dentre eles estão governadores, prefeitos
e senadores, além de ex-governadores e ex-prefeitos.
Eles vão para as urnas amparados pela
popularidade do trabalho de combate à pandemia e, em sua maioria, com os cofres cheios
para o lançamento de pacotes de obras e programas de
transferência de renda em estados e municípios.
Dos governadores dos dez maiores colégios
eleitorais, cinco vão concorrer à reeleição no próximo ano. Em sua maioria, são
governadores que chegaram ao poder em 2018 embalados por uma onda conservadora
e que terão 2022 como uma espécie de teste de fogo na trajetória política.
É o caso, por exemplo, do governador de
Minas Gerais, Romeu Zema (Novo). Ao contrário de 2018, quando disputou e venceu
sua primeira eleição, o empresário vai concorrer a um novo mandato amparado por
uma ampla coligação que deve incluir até antigos protagonistas da política
mineira, caso do PSDB.
Por outro lado, terá um cenário menos
favorável do que o de 2018, quando os adversários Fernando Pimentel (PT) e
Antonio Anastasia (PSD) viviam momentos de baixa. Desta vez, Zema deve
enfrentar um político em ascensão: o prefeito de Belo Horizonte,
Alexandre Kalil (PSD).
A situação é parecida no Rio de Janeiro e
em Santa Catarina, que também elegeram em 2018 nomes de fora da política
embalados pela onda conservadora. No Rio, o governador Cláudio Castro (PL), que
assumiu o cargo em definitivo em maio após o impeachment de Wilson Witzel, vai
disputar a reeleição.
Para isso, buscou um partido mais robusto. Filiou-se ao PL, legenda que ganhou força no Rio ao filiar 10 novos prefeitos, além dos senadores Romário e Carlos Portinho.
Em Santa Catarina, por outro lado, o
governador Carlos Moisés (sem partido) enfrenta um cenário complexo após responder
a dois processos de impeachment, dos quais foi absolvido.
O bombeiro militar que surpreendeu os
políticos tradicionais e foi eleito governador como o "candidato de
Bolsonaro" está isolado politicamente e deve enfrentar em 2022 adversários
à esquerda e à direita, inclusive no campo bolsonarista.
Ainda concorrem a um novo mandato dentre os
principais colégios eleitorais os governadores Helder Barbalho (MDB), no Pará,
e Ratinho Júnior (PSD), no Paraná. Ambos concorrerão como favoritos, amparados
por amplas coligações.
Também devem disputar a reeleição dois
vice-governadores tucanos que assumirão os cargos em abril do próximo ano, com
as prováveis
renúncias dos presidenciáveis Eduardo Leite e João Doria. São eles
Ranolfo Vieira Júnior, no Rio Grande do Sul, e Rodrigo Garcia, em São Paulo.
No caso específico de São Paulo, também são
pré-candidatos nomes experientes como os ex-governadores Márcio França (PSB) e
Geraldo Alckmin, que devem sair com uma única candidatura, além do ex-prefeito
da capital Fernando Haddad (PT).
Também é pré-candidato Guilherme Boulos
(PSOL). Ele nunca ocupou cargos eletivos, mas traz no currículo eleições para a
Presidência, em 2018, e para a
Prefeitura de São Paulo em 2020, quando ficou em segundo lugar.
Além de França e Alckmin, pelo menos outros
quatro ex-governadores devem tentar voltar ao cargo nos maiores colégios
eleitorais. Dois deles encerraram os mandatos em 2018 sem conseguir fazer o
sucessor: Simão Jatene (PSDB) no Pará e Raimundo Colombo (PSD) em Santa
Catarina.
No Paraná, Roberto Requião, que já governou
o estado por três vezes, tenta unificar a oposição em torno do seu nome para
enfrentar Ratinho Júnior. Para isso, deixou o MDB, que em seu estado se alinhou
ao governador e deve migrar para uma legenda mais à esquerda como PT ou PDT.
Requião faz parte de um grupo de ao menos
11 partidos que se organizaram para debater os problemas do estado. Com
legendas como PSOL, PT e PSDB, o movimento foi apelidado de “geringonça do
Paraná”, em referência à coalizão de adversários que saiu vitoriosa em
Portugal.
Outro ex-governador que tentará voltar ao
cargo é Jaques Wagner (PT), atualmente senador pela Bahia. Do lado adversário,
ele enfrentará ACM Neto (DEM), ex-prefeito
de Salvador que também concorrerá ao Governo da Bahia.
Junto com ele, ao menos oito ex-prefeitos e
sete prefeitos em meio de mandato estão entre os pré-candidatos nos maiores
colégios eleitorais do país.
Pernambuco é o estado que concentra a
maioria deles. No campo da situação, o ex-prefeito do Recife Geraldo Júlio
(PSB) é o nome escolhido para a sucessão do governador Paulo Câmara.
Na oposição, prefeitos bem-avaliados se
posicionam: Miguel Coelho (DEM), de Petrolina, Raquel Lyra (PSDB), de Caruaru,
e Anderson Ferreira (PL), de Jaboatão dos Guararapes.
Os três foram reeleitos com facilidade em
2020 e se articulam
para colocar fim ao ciclo de 16 anos de poder do PSB em Pernambuco.
Outro ex-prefeito que deve ser candidato,
só que no Ceará, é Roberto Cláudio, que governou Fortaleza de 2013 a 2020.
Pré-candidato do PDT ao Palácio da Abolição, ele tem o apoio do pré-candidato a
presidente Ciro Gomes e do senador Cid Gomes, ambos ex-governadores.
Leonardo Barreto, doutor em Ciência
Política pela UnB (Universidade de Brasília), lembra que, ao contrário de 2018,
a maior parte dos governadores chegarão às eleições de 2022 sem problemas de
caixa e adotando políticas
distributivas para mitigar os efeitos da pandemia.
“Será uma eleição com um processo político
mais previsível do que em 2014 e 2018, que foram duas eleições muito afetadas
pelo lavajatismo. Tendo a achar que haverá mais reeleições nos estados no
próximo ano”, avalia Barreto.
Ele afirma que possíveis surpresas
dependerão de dois fatores: a força
com que o bolsonarismo chegará às eleições e a capacidade que a
esquerda terá na ascensão de novos atores políticos. Também podem ganhar força
candidatos mais ricos, com capacidade de financiar suas próprias campanhas.
Das cerca de 50 pré-candidaturas cogitadas
nos 10 colégios eleitorais, apenas cinco não têm ou tiveram mandatos eletivos.
Mas parte deles já possui cancha eleitoral,
caso por exemplo de Guilherme Boulos (PSOL) e Everaldo Eguchi (PSL) – este
último é delegado federal e vai tentar resgatar no Pará o fenômeno eleitoral de
2018, quando candidatos de origem militar ou policial saíram vitoriosos nas
urnas.
Outros nomes são o do presidente da OAB
(Ordem dos Advogados do Brasil), Felipe Santa Cruz (PSD), pré-candidato no Rio
de Janeiro que deve enfrentar em sua estreia nas urnas pesos pesados como o
governador Cláudio Castro e o deputado
federal Marcelo Freixo (PSB).
Em São Paulo, são cotados dois novos nomes
ligados ao bolsonarismo: o ministro da Infraestrutura, Tarcísio Gomes de
Freitas, e o ex-ministro da Educação, Abraham Weintraub. Ambos não são filiados
a partidos e nunca disputaram eleições.
DORIA DESISTE DE PARTICIPAR DE DEBATE DE
PRÉVIAS
Nesta sexta (15), o governador de São
Paulo, João Doria (PSDB), anunciou que não irá participar do debate das prévias
presidenciais tucanas previsto para a próxima terça-feira (19) e organizado
pelos jornais O Globo e Valor.
Concorrem com Doria nas prévias o
governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB), e o ex-prefeito de
Manaus, Arthur Virgílio (PSDB).
De acordo com aliados de Doria, a decisão
de não participar se deu porque o PSDB não cumpriu o acordo de que os três
pré-candidatos, juntos, definiriam as regras dos debates. Para adversários do
tucano paulista, a decisão foi um tiro no pé —pode pegar mal no partido e
demonstrar insegurança.
Colaborou Carolina Linhares, em São Paulo
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