O Estado de S. Paulo
Nesta quarta-feira, o Copom aumentou os
juros básicos (Selic) em mais 1,5 ponto porcentual, para 9,25% ao ano. A
pancada, de 7,25 pontos porcentuais acumulados em nove meses, já é a maior em
tão curto período de tempo desde 2002.
O objetivo é quebrar a espinha dorsal da
inflação, que em 12 meses alcança 10,7% ao ano e pode ficar ainda mais alta, a
depender dos números de novembro a serem divulgados nesta sexta-feira.
Alguns críticos entendem que esse choque é inadequado, uma vez que, em sua origem, esta inflação é importada. Ou seja, tem a ver com a disparada dos preços internacionais que se seguiu à desorganização dos fluxos de produção e distribuição pela pandemia e não por aumento do consumo interno. Por isso, a redução do volume de moeda na economia (cujo efeito é a alta dos juros) não ataca as causas da inflação. A partir desse ponto de vista, não seria a escalada de juros que reduziria o consumo de combustíveis e, com isso, derrubaria os preços da gasolina.
No entanto, no Brasil, desde o quarto
trimestre de 2020, a inflação deixou de ser apenas de custos. Vem puxando para
cima mais de 60% dos preços da cesta de mercadorias e serviços que compõem o
custo de vida.
Hoje, o Banco Central atua quase sozinho na
tarefa de derrubar a inflação. Não conta com a chamada âncora fiscal porque o
governo Bolsonaro derrubou o teto de gastos e não colocou nada no lugar. Boa
parte do atual surto inflacionário é resultado de uma economia desarrumada e da
falta de confiança na administração do governo, que não consegue nem emplacar
as reformas prometidas nem acionar investimentos.
O processo de alta da Selic não terminou. O
comunicado oficial divulgado logo após a reunião do Copom deixa explícito que,
na sua próxima reunião, o Banco Central deverá aumenta-la em mais 1,5 ponto
porcentual. Ao longo do próximo ano, a Selic pode atingir os 11,75% ao ano,
para só a partir de então diminuir, sugere o comunicado.
Um dos efeitos esperados é a redução da
atividade econômica (recessão) pelo aperto no crédito e pela circulação de
menos moeda na economia. A própria inflação deve ser considerada um ajuste
darwiniano, digamos assim, que implica queda do consumo porque corrói poder
aquisitivo de toda a população que não consegue ser reposto pela recomposição
dos salários ou porque enfrenta o desemprego.
Efeito colateral é o desestímulo às aplicações de maior risco (especialmente ações), que passam a ser trocadas por aplicações em renda fixa para aproveitar os juros mais altos. É fator que poderá atrair mais moeda estrangeira e, portanto, atuar para derrubar a cotação do dólar.
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