Valor Econômico
Bolsonaro mostra fôlego para se manter no
páreo contra Lula
O acordo da PEC dos Precatórios alinhavou
quase todas as condições materiais da disputa de 2022 para o presidente Jair
Bolsonaro. Ruma para garantir o Auxílio Brasil de R$ 400, colchão com o qual
pretende segurar a miséria já que pobreza, num país sob o aperto monetário já
sinalizado pelo Copom, não vai dar pra reduzir. É assim que o buraco aumenta. A
cada aperto nos juros o presidente-candidato vai fazer mais um puxadinho no
teto.
Na disputa que hoje se configura pela
liderança do antipetismo, o retrato desta largada favorece Bolsonaro ante a
ameaça de Sergio Moro. Se a terceira via, na definição do diretor da
Quaest/Genial, Felipe Nunes, é uma demanda que se mantinha com pouca oferta, o
ex-ministro, na última edição da pesquisa divulgada ontem, mostra que chegou
para preencher esta lacuna. Ainda não há sinais, porém, de que será capaz de
ultrapassar a postulação presidencial à reeleição.
A corrupção como problema mantém-se subordinada aos dramas da miséria, desigualdade e desemprego. Moro pode prometer, mas é seu ex-chefe que terá entregas a fazer em 2022. A expectativa delas, somada ao pagamento da primeira parcela do décimo-terceiro, já ajudou a reverter o azedume do eleitorado com Bolsonaro.
O presidente sempre pode por tudo a perder
porque é desembestado, a operação do governo é ruim e a oscilação histórica do
humor do eleitor prevê ressaca no primeiro trimestre do ano. A foto de hoje,
porém, mostra que ele conta com os recursos e a expectativa positiva de um
nicho do eleitorado capaz de colocá-lo no segundo turno.
A melhoria de sua avaliação entre
evangélicos mostrou, como era previsível, que o presidente faturou a ida de
André Mendonça para o Supremo contra a qual trabalhou. Busca prorrogar esse
bônus prometendo, se reeleito, mais dois ministros da mesma filiação religiosa.
O limite desta fatura é a economia. Se o assistencialismo segura as pontas da
miséria, a previsão para juro, crescimento e emprego em 2022 é uma montanha que
a fé custa a remover.
Quando se diz que em 2018 Moro teria mais
chances do que hoje não é apenas porque a #vazajato e a adesão ao governo
trincaram a imagem que havia propagado, mas também porque aquela eleição é
filha única. Sucedeu ao governo mais impopular da história, sem legado a ser
defendido, favorecendo a antipolítica.
A disputa de 2022, Felipe Nunes aposta,
será diferente. Estará mais próxima daquela de 20 anos atrás. Na de 2002 o
presidente não disputava a reeleição, mas o PT, como hoje, estava na oposição e
se favoreceu pela crise econômica. Em mais de 30 anos de disputas eleitorais
entre PT e PSDB também foi aquela a eleição em que os partidos mais se
aproximaram, pela civilidade da transição.
A aproximação entre o ex-presidente Lula e
Geraldo Alckmin sugere uma retomada daquele movimento, mas além de PT e PSDB já
não serem os mesmos, nem tucano o ex-governador será. A contribuição dos
partidos para afastá-los pode ser medida pelo fato de que Lula e Fernando
Henrique se aproximaram na campanha do ex-presidente tucano ao Senado, em 1978,
quando os dois partidos também não existiam.
O último gesto de relevância política de
FHC foi o de declarar que, num segundo turno contra Bolsonaro, ficaria com
Lula. O petista também se movimenta de maneira cada vez mais autônoma do PT,
partido que tem perdido protagonismo parlamentar. Mostra-se incapaz de faturar
a autoria de projetos como o vale-gás, que Bolsonaro já carimbou de seu, ou de
justificar iniciativas como a proposta que pretendia aumentar o controle do
Supremo e do Congresso sobre o Conselho Nacional do Ministério Público.
As idas e vindas da aproximação com Alckmin
respondem menos à resistência petista do que à montagem da aliança com a qual
Lula pretende disputar. Com a saída do PDT do bloco de aliados históricos e a
atração de protagonistas da oposição, como o governador do Maranhão, Flávio
Dino, e os deputados federais Marcelo Freixo (RJ) e Tabata Amaral (SP), o PSB subiu
seu preço.
Onde se lê resistência do PT à aliança
entenda-se barganha para reduzir o preço do PSB. Some-se a isso a importância
da disputa em São Paulo, colégio eleitoral em que o PT só ganhou uma eleição
presidencial, a de 2002. Mais do que acenar ao centro, a aliança com Alckmin
obedece à centralidade do palanque no maior colégio eleitoral do país.
Com tantos nós na aliança petista a serem
desatados, Alckmin achou por bem deixar a definição para o próximo ano. A opção
da candidatura ao governo do Estado pelo PSD está de pé, ainda que cada vez
mais isolada, visto que o União Brasil tende à aliança com o PSDB em torno da
candidatura do vice-governador Rodrigo Garcia.
Está claro ainda, para o ex-governador, que
Lula é mais favorito na disputa presidencial do que ele o é na estadual. E que
ser vice na chapa de um presidente que chegaria ao final do primeiro mandato
aos 82 anos lhe abre mais perspectiva de futuro do que um quinto mandato como
governador de São Paulo.
Da resolução dos imbróglios da aliança petista
ainda ficará claro se Alckmin teria o espaço que, no encontro com
sindicalistas, sinalizou almejar. Se José Alencar, que era senador, chegou a
ser ministro da Defesa, parece natural que o ex-governador de São Paulo, por
quatro mandatos, tenha a expectativa de atribuições maiores. Os sindicalistas
pediram o encontro numa sexta e conseguiram marcar já para a segunda seguinte.
Saíram de lá com a impressão de que Alckmin prefere a disputa nacional, ainda
que não esteja disposto a virar problema, mas solução.
A chapa com Alckmin mostraria ainda a
aposta de Lula numa campanha menos enfeitada do que a de 2018. Marcada pelo que
se fez, pelo que se deixou de fazer e pelo que ainda se pode fazer. E também
pelo que fez de errado, como a gestão petista na Petrobras.
Já não tem lugar, nas periferias das
grandes cidades, para o domínio de jovens que fazem “zoação” com memes em que
Bolsonaro é herói. O voto no presidente deixou de encarnar a rebeldia
despolitizada como o fez em 2018.
Da tríade antipolítica, troça e notícias
falsas, que marcaram 2018, restará a última. E nesse campo, por mais restrições
que lhe tenham sido impostas pela justiça eleitoral e pelas redes, Bolsonaro já
demonstrou que não conhece limites. Não custará a ultrapassá-los. Primeiro
contra Moro. Depois, contra Lula.
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