Folha de S. Paulo
Em três anos, Bolsonaro nunca fez ou disse
nada que não visasse sua eternidade na cadeira
Um dia, se o Brasil acordar sem Jair Bolsonaro,
olharemos em torno e só então faremos ideia do que sobrou —se sobrou. Nunca um
governante terá destroçado em tão pouco tempo as bases do país.
A princípio, parecia só um estúpido, irresponsável, destrambelhado, e assim atravessou o primeiro ano de mandato, provocando em muitos apenas indignação: "É louco!", "Sabe o que ele disse hoje?" ou "Como pode um sujeito desses ser presidente?". Outros, no entanto, entre os quais este colunista, viram desde cedo que havia um método naqueles supostos desatinos. Bolsonaro nunca fez, assinou ou disse nada que não significasse um passo na sua progressiva tomada do poder.
Você dirá que, eleito por milhões que
acreditavam nele e outros tantos que odiavam o PT, Bolsonaro já estava no
poder. Não. Estava apenas no cargo. O poder foi o que ele se dedicou a
conquistar com o desmonte das instituições —ambiente, educação, saúde, cultura,
costumes, relações exteriores— e a infiltração de biltres de sua confiança nas
instâncias que realmente importavam: os órgãos de controle da Justiça, da
polícia, dos militares, da informação, do orçamento. Infiltrar significa
penetrar como filtro, imiscuir-se lentamente, embeber, impregnar e, principal
objetivo, bloquear.
Em três anos, Bolsonaro conseguiu. Ninguém
o pega. Seus crimes são expostos, denunciados, vão a escalões inéditos nas
entranhas da lei, como a CPI da Covid,
e estacionam, perdem o efeito, são extintos. Matou centenas de milhares de
brasileiros na pandemia, condenou milhões a roer ossos ou morrer de fome e
continua assobiando no azul. Sente-se garantido. Seu ostensivo alheamento à
eleição de 2022 é revelador. As pesquisas indicam que levará uma tunda, talvez
até no primeiro turno, e, pelo visto, tanto se lhe faz.
Talvez porque conte com a proteção da força
que, com o perdão das senhoras da categoria, ele também prostituiu: o Exército.
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