Folha de S. Paulo
Grupo aplaude presidente que produziu mais
instabilidade do que ambiente saudável de negócios
Jair Bolsonaro quer repetir a dose. O
presidente foi a um beija-mão com empresários da indústria na última
terça-feira (7) e apresentou os integrantes do governo como
"empregados" daquela distinta plateia. "Vocês não devem nenhum
favor para nós. Nós
é que somos devedores de favores a vocês", declarou, sob aplausos.
Foi o mesmo papo que usou para conquistar a simpatia do setor em 2018. Naquele ano, Bolsonaro se ofereceu para reduzir direitos trabalhistas e superar o que chamou de "problemas ambientais", afrouxando a legislação. "Não faremos nada da nossa cabeça. Os senhores, que estão na ponta das empresas, serão os nossos patrões", afirmou.
Bolsonaro não esconde a generosidade com que
gosta de tratar determinados grupos de interesse. Em mais uma manifestação de
sua filosofia extremista, o presidente faz questão de oferecer um discurso
de submissão
completa à agenda dos produtores e empregadores, descrevendo outros
personagens como fardos ou inimigos a serem batidos.
Diante dos patrões, Bolsonaro criticou o
que chamou de "ativismo em cima da legislação trabalhista". Lembrou
ainda que o governo cortou a aplicação de multas por crimes ambientais e
destacou seu patrocínio à distribuição indiscriminada de cloroquina, com o
objetivo de manter a economia funcionando.
O presidente parece interessado em levar à
próxima campanha sua agenda de depredação: a redução da proteção aos
trabalhadores, a perda de credibilidade internacional provocada pela devastação
ambiental e a gestão catastrófica da pandemia, que contribui para uma recuperação
econômica desastrada.
O programa de Bolsonaro produziu mais
instabilidade econômica do que um ambiente saudável de negócios. Mesmo assim,
alguns empresários se mostram dispostos a apoiar esse candidato a presidente
capaz de prometer um pacote de bondades que nenhum político minimamente
equilibrado poderia apresentar. Muitos devem cair
na conversa dele mais uma vez.
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