Folha de S. Paulo
BC eleva juros e afirma que alta na Selic
não vai ter refresco até expectativa de IPCA ficar no alvo
O Banco Central avisou que a alta
da taxa básica de juros não vai ter refresco tão cedo. Isto é, ainda vai
pisar no acelerador até que as expectativas de inflação estejam na meta em
2023. A meta de 2022 já foi meio para o vinagre; se o IPCA ficar abaixo do teto
de 5%, já estaria bom.
Trocando em miúdos, por ora, a Selic deve
ir pelo menos a 11,75% em algum momento do ano que vem, fechando 2022 em
11,25%.
O aumento da Selic de 7,75% para 9,25% ao ano na reunião desta quarta-feira do BC era meio óbvio. Houve alguma novidade no tom, no recado "duro", talvez para ajudar a desinflar a economia com um pouco de gogó, "no grito", mostrando disposição de salgar ainda mais os juros, mesmo nesta economia à beira de cair na recessão.
Uma economia menos ruinzinha daqui até 2023
vai depender ainda mais, pois, de uma queda meio milagrosa do ritmo de
inflação. No mais, não há o muito o que esperar de melhor além de o governo não
estourar alguma outra bomba, que os candidatos a presidente não digam
disparates excessivos e que a economia mundial não tenha piripaques.
O fogo da inflação teria de baixar muito. A
previsão é que o IPCA continue crescendo no ritmo anual de 10% até abril,
fechando o ano em 5%. Mas teria de ser bem menor e mais cedo. Assim, a carestia
comeria menos dos salários e o Banco Central poderia evitar alta maior da
Selic, diminuindo o tamanho do prejuízo para 2023, pelo menos. É bom notar que
a gente ainda mal viu o efeito da alta de juros deste ano.
Uma baixa mais rápida e inesperada da
inflação depende do preço do dólar. Pode cair um tanto, com a alta da taxa de
juros no Brasil, mas depende também de tumultos políticos (Bolsonaro, centrão,
campanha). Depende do Imponderável de Almeida da finança mundial. Depende ainda
de confirmação de um refresco da crise mundial de energia, de chuva no Brasil,
de confirmação de safra agrícola boa por aqui (as expectativas são bem
positivas, até agora).
Seria uma melhorazinha parcial, marginal,
talvez para evitar a recessão.
Em outubro, as vendas
do comércio caíram pelo terceiro mês consecutivo; a produção
da indústria, pelo quinto mês seguido, dizem os números do IBGE. Estamos
abaixo do nível anterior à epidemia, de fevereiro de 2020. Os primeiros
indícios de novembro são de nova queda ou estagnação. O que resta de
crescimento está na recuperação do setor de serviços.
A alta de juros vai colocar a dívida
pública para ferver de novo. A dívida dos governos em relação ao tamanho da
economia (a relação dívida/PIB) deve cair de 89% em 2020 para cerca de 81% em
2021, redução que nem foi tão boa enquanto durou.
O PIB aumentou com a recuperação rápida do
início do ano, mas também por causa da inflação. As receitas dos governos
cresceram também por causa da inflação, de pagamentos de impostos adiados de
2020, preço
de commodities em alta e arrecadação maior de tributos sobre
importação, inflados por causa do dólar caro, notam economistas do Bradesco. No
ano que vem, não haverá o efeito inflação, o crescimento do PIB deve cair do
4,7% deste ano para algo perto de zero e o pagamento de juros da dívida deve
aumentar uns 50% no ano que vem (de R$ 438 bilhões para R$ 658 bilhões, nas
contas do pessoal do Bradesco).
Isto é, a ansiedade com o descontrole da
dívida vai aumentar. Neste ano, o receio já aumentara, por causa da gambiarra
que o governo e o centrão aprontaram com o teto de gastos, o que ajudou a
chutar o dólar ainda mais para cima, fora a ajuda das barbaridades de
Bolsonaro.
Ou seja, afora milagres, o próximo governo
tomará posse com a faca de juros e dívida no pescoço.
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