Folha de S. Paulo
Candidatos a presidente deveriam passar
pelo psicotécnico
O que o presidente Jair Bolsonaro pensa da
vacinação contra a Covid-19? Há evidências de que ele não é exatamente um fã
dos imunizantes. Algumas de suas declarações sobre vacinas ganharam lugar de
destaque no bestialógico nacional. "Se você virar
jacaré, é problema seu". "Se crescer barba em alguma
mulher aí, ou algum homem começar a falar fino, eles [Pfizer] não têm nada com
isso".
O presidente, porém, não é consistente em sua insensatez. Houve momentos em que ele tentou tomar para si o crédito pela vacinação. Especialmente em março, o mandatário e seus filhos ensaiaram uma mudança de discurso pela qual o Brasil seria, graças aos esforços do governo federal, o país que mais vacinava no mundo. Essa inflexão, contudo, não foi para a frente. Imagino que as revelações da CPI da Covid, instalada em abril, tenham tornado a narrativa insustentável.
Seja como for, o presidente parece agora
voltar à sua posição natural, desdobrando-se para sabotar a vacinação das
crianças. É difícil entender o cálculo (se é que há algum) de
Bolsonaro. O brasileiro já deixou claro, em pesquisas e na adesão, que é a
favor da imunização. As taxas de hesitação vacinal por aqui são baixas. O
presidente tem, portanto, pouco a ganhar eleitoralmente ao insurgir-se contra a
campanha. Ele talvez conte que sua atitude o deixará bem com a base radical,
mas não afastará o eleitor pró-vacina. Pode ser, mas é arriscado. O que parece
claro, dada a volubilidade do presidente na matéria, é que, na verdade, ele não
está nem aí para se as pessoas estão ou não se vacinando e se estão ou não
morrendo.
Sempre defendi que as escolhas eleitorais
fossem tão abertas quanto possível, chegando a ficar contra a Lei da Ficha
Limpa. Mas, considerando o dano que um presidente com traços psicopatas pode
causar, talvez seja o caso de submeter os candidatos a um teste de
personalidade, como já fazemos com os motoristas.
Nenhum comentário:
Postar um comentário