Folha de S. Paulo
Mais da metade da população (117 milhões)
não consegue comer o que precisa
O Orçamento de 2022, recentemente aprovado,
mostra como o Brasil está do avesso. O fundo eleitoral é uma obscenidade de R$
4,9 bilhões e o aumento salarial de apenas três categorias de servidores (PF,
PRF e Departamento Penitenciário), de interesse pessoal de Bolsonaro, mordeu R$
1,7 bilhão do "meu, do seu, do nosso" dinheiro.
Duas reportagens desta Folha também ilustram o desatino da inversão de prioridades com o dinheiro do contribuinte. Ana Luiza Albuquerque revelou que 13 motociatas do genocida, para apregoar o golpismo, levaram R$ 5 milhões dos cofres públicos. E Constança Rezende mostrou que o Ministério da Defesa usou dinheiro de combate à Covid para comprar filé mignon, picanha, bacalhau, camarão, salmão e bebidas. O cardápio de luxo para os fardados custou R$ 535 mil.
Somados, esses gastos chegam a R$ 6,6
bilhões e uns quebrados. Numa conta simples, para dar uma ordem de grandeza,
seria suficiente para comprar mais de 13 milhões de cestas básicas
(considerando um preço médio de R$ 500 por cesta). Isso daria de comer a muita
gente.
Mais de 19 milhões de pessoas passam fome
no Brasil e mais da metade da população (117 milhões) convive com algum grau de
insegurança alimentar, ou seja, não consegue comer o que precisa. Às vésperas
do Natal, brasileiros estavam na fila do osso num açougue em Cuiabá, a capital
do agronegócio. No Rio Grande do Norte, sertanejos que voltaram a caçar lagarto
para enganar a fome só tiveram o que comer na ceia graças a doações.
No caso do fundo eleitoral, é preciso
assinalar que algum recurso público, de fato, tem que ser reservado para as
campanhas. O fim do financiamento de candidaturas por empresas foi uma decisão
acertada.
Mas as campanhas não podem ser tão caras.
Democracia tem um custo? Sem dúvida. Mas não pode ser esse o preço. Não existe
democracia se o cidadão não tem o direito humano mais básico de todos
assegurado: o direito à alimentação e à vida.
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