O Globo
Os candidatos a presidente terão que
esclarecer suas propostas econômicas. Não será possível se esconder, até
outubro, atrás de clichês, ambiguidades ou um economista-símbolo. Contudo, essa
não é uma eleição sobre economia. O governo Bolsonaro é o horror. O horror. Ele
ameaça a democracia, e todos os avanços conquistados através dela. Portanto, é
disso que se trata: vamos ou não aceitar a continuidade da barbárie e da
demolição do país. Na economia, Bolsonaro também erra. Os projetos de reformas
são ruins, o modelo de privatização da Eletrobras cria distorções, e a
tendência tem sido a da distribuição de privilégios aos grupos de interesse
ligados ao presidente.
A “Folha de S.Paulo” deu a largada no debate econômico publicando artigos de economistas de candidatos. Apesar de o centro da eleição não ser a economia — mas sim a democracia e valores civilizatórios — é sempre através de uma economia estável e sólida que se sustenta qualquer bom projeto.
O ex-ministro Guido Mantega define a
política econômica do PT como social-desenvolvimentismo, e a ela creditou todos
os méritos. Os problemas que o Brasil vive seriam todos culpa do
“neoliberalismo anacrônico”. Um dos problemas do artigo é a marcação do tempo.
Para ele, os governos do PT vão de 2003 a 2014, tempo em que o país cresceu
3,5% ao ano e o desemprego caiu a 6%. O terrível ano de 2015 sumiu da História.
Nele, o PIB caiu 3,5%, a inflação disparou e o desemprego subiu. Depois veio o
ano de 2016 em que o partido ainda estava no poder até maio. Quem acompanhou
aquele tempo sabe que erros sucessivos levaram ao desastre, que custou 7% do
PIB. É cômodo apagar fatos da história, mas o correto seria explicar como foi
que caímos no buraco econômico ao fim daquela administração.
O PT teve muitos méritos. E errou muito.
Fez por anos a melhor política ambiental que o país já teve, mas fez Belo
Monte, um elefante branco agressor da floresta e dos povos indígenas. Acumulou
reservas cambiais que até hoje são a garantia do país nas crises
internacionais, mas em nome do “desenvolvimentismo” privilegiou alguns grupos
econômicos. Um partido de esquerda que eleva o volume de subsídios ao capital
precisa repensar seus caminhos.
O economista Nelson Marconi escreve para
explicar a posição do candidato Ciro Gomes. Não explica muito. As comparações
com os países asiáticos são sempre tentadoras porque mostram o quanto eles
avançaram e nós não. “Por aqui entregamos o nosso mercado interno de mão
beijada, via moeda apreciada, aos produtores de outros países, sem expandir as
exportações de manufaturados”, critica Marconi. Os países asiáticos
integraram-se às cadeias globais de suprimento. E a proposta do pedetista
parece ser a de fechar o país, depreciar o câmbio, e dar mais subsídios ainda aos
produtores locais. Esse caminho dá errado.
Affonso Celso Pastore escreve sobre o
pensamento econômico de Sergio Moro, do Podemos. Pastore vai além dos temas
monetários, que sempre foram seu foco, avisa que o mundo “já abandonou o mito
do estado mínimo” e diz que a “responsabilidade fiscal é apenas condição
necessária”. Defende políticas de combate à pobreza e proteção ambiental. Elas
são boas, só não parecem com o candidato. Moro aderiu a um governo que já
entrou ofendendo os pobres e prometendo destruir o meio ambiente.
Henrique Meirelles representou o pensamento
de João Dória. Meirelles esteve antes nos governos Lula e Temer. No texto, fica
difícil saber como será possível atingir seus objetivos. Por exemplo, quando
ele defende crescimento sustentado do emprego e da remuneração dos
trabalhadores, do que ele está falando? O governo Temer promoveu uma reforma
trabalhista prometendo criar mais emprego. Não criou.
O debate econômico entre os defensores da
democracia será mais eficiente se cada grupo sair do seu gueto. Os liberais
falam em “reformas” como se fosse uma palavra mágica. Algumas mais distorcem
que consertam, como as do governo atual. O país precisará gastar mais para
reconstruir o que foi demolido no estado brasileiro e incluir os mais pobres,
mas os limites fiscais não são uma abstração. Há novos consensos se formando.
Quem ficar prisioneiro de velhas convicções pode perder o melhor da conversa.
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