domingo, 9 de janeiro de 2022

Poesia | João Cabral de Melo Neto: O funcionário

No papel de serviço

escrevo o teu nome

(estranho à sala

como qualquer flor)

mas a borracha

vem e apaga.

 

Apaga as letras.

O carvão do lápis,

não o nome,

vivo animal,

planta viva

a arfar no cimento.

 

O macio monstro

impõe enfim o vazio

à página branca;

calma à mesa

sono ao lápis,

aos arquivos, poeira;

 

fome à boca negra

das gavetas, sede

ao mata-borrão;

a mim, a prosa

procurada, o conforto

da poesia ida.

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