quarta-feira, 12 de janeiro de 2022

Vinicius Torres Freire: Ainda dá para resistir à ômicron

Folha de S. Paulo

Campanha nacional de vacinação de emergência ainda maior pode conter danos e riscos sérios

O que ainda se pode fazer para conter os efeitos da ômicron? Nada de novo: se pode fazer mais e mais rápido. É preciso vacinar muito e logo. Sim, vacinas demoram a fazer efeito e a variante hipercontagiosa está à solta. Mas quanto tempo ainda vai durar esta onda? Cientistas dizem a este jornalista que dois meses, por baixo, talvez seja um chute razoável. Um chute, pois não sabemos nem em qual ritmo o vírus novo se espalha pelo país. Graças à incompetência e à negligência convenientes do governo federal, não temos dados e tão cedo não os teremos.

Por falar nisso, não sabemos também nem a quantas anda a vacinação. Uns 30 milhões de pessoas de 12 anos ou mais ainda não tomaram as duas doses; muito mais está sem o reforço. Aparentemente, a ômicron causa menos danos em vacinados, embora leiamos notícias de idosos ou de pessoas com doenças preexistentes indo para UTIs ou morrendo mesmo com três doses. Uma campanha nacional de vacinação de emergência (ainda maior) poderia salvar vidas, evitar sequelas em infectados, diminuir sofrimentos.

Uma campanha forte, de comoção nacional, poderia salvar os mais velhos, as vítimas principais do massacre, os invacinados e as crianças, agora também infectadas em grande número, como vemos pelas estatísticas americanas.

Cadê a campanha? Jair Bolsonaro continua a fazer a sua: contra vacinas. O lance mais recente foi seu vomitório injurioso contra a Anvisa e sua tentativa de desacreditar a imunização de crianças.

De que adianta, porém, tratar do desgoverno? Quem ainda aguenta a obviedade de declarar a incompetência criminosa e a sabotagem sistemática? No entanto, até por necessidade de sobrevivência e de evitar que o monstro se anime a cometer mais atrocidades, é preciso resistir.

Além de colocar vidas e saúdes em risco diretamente, a ômicron é um risco para a segurança econômica e social. Não sabemos quantas pessoas a variante vai abater e em quanto tempo, ainda menos no Brasil, até porque também não há dados, ressalte-se. Quantas ficarão ao menos por alguns dias incapacitadas para o trabalho ou isoladas?

Ouvimos falar de voos cancelados, de tripulações doentes. Mas por que o vírus atacaria apenas trabalhadores das companhias aéreas? Como estão motoristas de transporte público? Como estão passando trabalhadores da produção, do transporte e da entrega de comida, aliás grandes vítimas das primeiras ondas? Como vão aqueles que cuidam para que tenhamos eletricidade, combustíveis, água, limpeza urbana ou polícia? Ou aqueles que cuidam de nós nos postinhos, nas clínicas, nos hospitais?

Alguém pode dizer que se trata de alarmismo acreditar que trabalhadores possam ficar doentes em números bastantes para prejudicar serviços essenciais. Talvez seja. Este jornalista acredita que é melhor não esperar para ver, se por mais não fosse porque essas pessoas estiveram na lida e na luta durante os piores momentos da epidemia, garantindo a nossa sobrevivência e padecendo por isso. No mínimo, não é justo larga-los outra vez.

Ainda importante, não sabemos quantas pessoas acabarão nos hospitais por causa dessa variante "branda". Quem trabalha na saúde já está esgotada, abatida, talvez doente de Covid ou de algo mais. Muita gente ficou sem tratamento adequado de outros males por causa da lotação hospitalar pelo coronavírus; há os sequelados da epidemia, para o que se dá pouca atenção. São também lugares comuns, está todo mundo cansado de ouvir, mas é cada vez mais verdade. Outra onda grande de internações vai causar ainda mais danos colaterais.

Sempre há tempo de salvar vidas, mesmo nestes tempos de morte de Jair Bolsonaro.

 

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