Folha de S. Paulo
Campanha nacional de vacinação de
emergência ainda maior pode conter danos e riscos sérios
O que ainda se pode fazer para conter os efeitos
da ômicron? Nada de novo: se pode fazer mais e mais rápido. É preciso
vacinar muito e logo. Sim, vacinas demoram a fazer efeito e a variante
hipercontagiosa está à solta. Mas quanto tempo ainda vai durar esta onda?
Cientistas dizem a este jornalista que dois meses, por baixo, talvez seja um
chute razoável. Um chute, pois não sabemos nem em qual ritmo o vírus novo se
espalha pelo país. Graças à incompetência e à negligência convenientes do
governo federal, não
temos dados e tão cedo não os teremos.
Por falar nisso, não sabemos também nem a
quantas anda a vacinação. Uns 30 milhões de pessoas de 12 anos ou mais ainda
não tomaram as duas doses; muito mais está sem o reforço. Aparentemente, a
ômicron causa menos danos em vacinados, embora leiamos notícias de idosos ou de
pessoas com doenças preexistentes indo para UTIs ou morrendo mesmo com três
doses. Uma campanha nacional de vacinação de emergência (ainda maior) poderia
salvar vidas, evitar sequelas em infectados, diminuir sofrimentos.
Uma campanha forte, de comoção nacional, poderia salvar os mais velhos, as vítimas principais do massacre, os invacinados e as crianças, agora também infectadas em grande número, como vemos pelas estatísticas americanas.
Cadê a campanha? Jair
Bolsonaro continua a fazer a sua: contra vacinas. O lance mais recente
foi seu vomitório injurioso contra a Anvisa e sua tentativa de desacreditar
a imunização de crianças.
De que adianta, porém, tratar do
desgoverno? Quem ainda aguenta a obviedade de declarar a incompetência
criminosa e a sabotagem sistemática? No entanto, até por necessidade de
sobrevivência e de evitar que o monstro se anime a cometer mais atrocidades, é
preciso resistir.
Além de colocar vidas e saúdes em risco
diretamente, a ômicron é um risco para a segurança econômica e social. Não
sabemos quantas pessoas a variante vai abater e em quanto tempo, ainda menos no
Brasil, até porque também não há dados, ressalte-se. Quantas ficarão ao menos
por alguns dias incapacitadas
para o trabalho ou isoladas?
Ouvimos falar de voos
cancelados, de tripulações doentes. Mas por que o vírus atacaria apenas
trabalhadores das companhias aéreas? Como estão motoristas de transporte
público? Como estão passando trabalhadores da produção, do transporte e da
entrega de comida, aliás grandes vítimas das primeiras ondas? Como vão aqueles
que cuidam para que tenhamos eletricidade, combustíveis, água, limpeza urbana
ou polícia? Ou aqueles que cuidam de nós nos postinhos, nas clínicas, nos
hospitais?
Alguém pode dizer que se trata de alarmismo
acreditar que trabalhadores possam ficar doentes em números bastantes para
prejudicar serviços essenciais. Talvez seja. Este jornalista acredita que é
melhor não esperar para ver, se por mais não fosse porque essas pessoas
estiveram na lida e na luta durante os piores momentos da epidemia, garantindo
a nossa sobrevivência e padecendo por isso. No mínimo, não é justo larga-los
outra vez.
Ainda importante, não sabemos quantas
pessoas acabarão nos hospitais por causa dessa variante "branda". Quem
trabalha na saúde já está esgotada, abatida, talvez doente de Covid ou de algo
mais. Muita gente ficou sem tratamento adequado de outros males por causa da
lotação hospitalar pelo coronavírus; há os sequelados da epidemia, para o que
se dá pouca atenção. São também lugares comuns, está todo mundo cansado de
ouvir, mas é cada vez mais verdade. Outra onda grande de internações vai causar
ainda mais danos colaterais.
Sempre há tempo de salvar vidas, mesmo
nestes tempos de morte de Jair Bolsonaro.
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