Folha de S. Paulo
Bolsonaro não poderá impedir que sua
rejeição vá para as ruas
Há gente horrorizada com o escândalo do
MEC, que se revelou um balcão para a liberação de verbas, sendo a moeda
corrente a compra de Bíblias ou o recebimento de barras de ouro (afinal, o
garimpo é coisa nossa). Em essência, é um velho golpe de corrupção tantas vezes
praticado, mais um "desvio de merenda", agora com a participação de
pastores lobistas que têm trânsito livre no Palácio do Planalto.
Pensando bem, ninguém deveria estar
surpreso. Bolsonaro não poderia oferecer o que não tem e o que despreza:
educação.
Até agora quatro foram os ocupantes da pasta; cada um pior que o outro. O olavista Ricardo Vélez ficou três meses, mas teve tempo de mandar que alunos fossem filmados cantando o Hino Nacional e recitando o lema "Brasil acima de tudo, Deus acima de todos". Entrou Abraham Weintraub, animador de auditório da extrema direita, mais interessado em prender ministros do STF, a quem chamou de "vagabundos", antes de se esconder nos EUA. O economista Carlos Decotelli apresentou um currículo cheio de informações falsas e teve a nomeação cancelada.
Sondado, o empresário Renato Feder,
defensor da extinção do ministério e da privatização de todo o ensino público,
recusou a oferta. O cargo ficou vago por um mês até a chegada do pastor Milton
Ribeiro, com seu ar de superioridade moral, fachada que esconde uma usina de
preconceitos contra homossexuais, estudantes com deficiências e a população
menos favorecida (para ele, a universidade deveria ser "para poucos").
Ribeiro agiu para atender "um pedido
especial" do presidente. O ministro vai embora, mas Bolsonaro continua com
o rabo preso —e ainda não se sabe até onde o rabo poderá crescer. O estrago na
campanha de reeleição está feito. Se há gente perplexa com a gatunagem no MEC,
imagine quando for aberta a caixa-preta do orçamento secreto destinado ao
centrão. As ruas poderão virar um enorme Lollapalooza.
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