O Globo
A humanidade enfrenta uma das maiores
encruzilhadas da História. A desigualdade global vem crescendo, assim como a
pobreza e o número de favelas. Cresce também a devastação da natureza, com
consequências ainda imprevisíveis sobre o clima do planeta, a agricultura e a
segurança alimentar de toda a nossa espécie. Somam-se a isso os desafios
impostos pela tecnologia, como o advento da automação, que pode empurrar
milhões de pessoas para o desemprego.
Temos no horizonte enormes questões sociais e ambientais que só poderão ser encaradas por meio da colaboração. Instituições globais, governos, empresas, organizações sociais e cidadãos comuns precisam se juntar para produzir soluções novas, mais eficazes, para nossos problemas concretos.
A ideia de que um único ator social tem a
chave para resolver todas essas mazelas não tem espaço neste complexo século
XXI. Alguns olhariam para o mercado, com sua “mão invisível”, como ferramenta
ideal para lidar com a questão social. Outros diriam que cabe ao Estado essa
tarefa. Alguns apostariam ainda em soluções locais, baseadas em pequenos grupos
comunitários, enquanto o outro lado lembraria a importância dos grandes
organismos internacionais. Na verdade, é a colaboração entre essas muitas
esferas que pode criar saídas para o labirinto da pobreza e da desigualdade.
A valorização das parcerias é
particularmente importante hoje, quando o conceito de ESG (Ambiental, Social e
Governança, na sigla em inglês) se torna consenso no universo corporativo. Mais
empresas buscam desenvolver projetos sociais, por isso mesmo é necessário
reforçar que a favela não precisa de “salvadores”, mas de parceiros. Ela quer
aprender, mas também tem muito a ensinar. O mercado precisa entender que
investir na periferia é, sim, um bom negócio — do ponto de vista social e
econômico.
A favela precisa de colaboradores, de gente
que a ajude a desenvolver, com sua própria força e criatividade, novas fontes
de riqueza e saídas inovadoras para suas mazelas. O caminho para isso está na
sinergia entre empresas, agentes públicos, terceiro setor e nas próprias
lideranças comunitárias. Só assim conseguiremos desenvolver tecnologias sociais
de combate à pobreza qualitativamente melhores, adequadas aos desafios do nosso
tempo, em vez de repetirmos modelos criados no século passado ou retrasado.
Por isso o “tamojunto” é uma das palavras
de ordem na Gerando Falcões. Há muito tempo existe um muro entre o mercado
brasileiro e a periferia, mas já passou da hora de ele ser derrubado. Um dos
maiores desafios do terceiro setor é construir pontes, garantindo a cooperação
entre todos os atores sociais em torno do objetivo de erradicar a pobreza.
Longe de ser uma estratégia restrita à área social, a valorização do esforço colaborativo é uma tendência generalizada, que corresponde às necessidades do nosso tempo. Os grandes desafios deste século pedem respostas complexas que só poderão ser encontradas coletivamente. Mais do que nunca, a união faz a força. Quem não souber trabalhar em sistemas de parcerias se tornará obsoleto e perderá relevância. Nos próximos anos, colaboração será questão de sobrevivência.
Nenhum comentário:
Postar um comentário