Correio Braziliense
As pesquisas de opinião também revelaram
que as denúncias já estavam começando a contaminar a imagem do presidente da
República, além de a crise ter saído de controle
O presidente Jair Bolsonaro exonerou,
ontem, o ministro da Educação, Milton Ribeiro, o quarto titular da pasta em seu
governo. Pastor presbiteriano e professor, no comando do ministério desde julho
do ano passado, não suportou o desgaste provocado pelas denúncias de que havia
um gabinete paralelo no MEC, no qual dois pastores evangélicos supostamente
distribuíam verbas oficiais em troca de propinas.
Ribeiro nega as acusações, que foram corroboradas por denúncias de prefeitos abordados pelos pastores Gilmar Santos, presidente da Convenção Nacional de Igrejas e Ministros das Assembleias de Deus no Brasil Cristo Para Todos (Conimadb), e Arilton Moura, ligado à Assembleia de Deus. A queda do ministro ocorre uma semana após a revelação de uma gravação, pelo jornal Folha de São Paulo, na qual o ministro disse repassar verbas do ministério para municípios indicados por dois pastores, a pedido do presidente Jair Bolsonaro.
Ribeiro tentou desdizer a afirmação, para
proteger Bolsonaro, mas o escândalo ganhou outra dimensão após prefeitos
revelarem os pedidos de propinas, inclusive em barras de ouro. A reação
negativa na opinião pública levou integrantes da própria base do governo a
pedir a cabeça de Ribeiro, inclusive parlamentares ligados aos setores
evangélicos.
As pesquisas de opinião também revelaram
que as denúncias já estavam começando a contaminar a imagem do presidente Jair
Bolsonaro, além de terem saído de controle do Palácio do Planalto, porque o
procurador-geral da República, Augusto Aras, pediu a abertura de investigações
sobre o caso à Polícia Federal. Sem ocupar nenhum cargo no governo, os pastore
participaram de reuniões com autoridades e encontros com Bolsonaro, além de
fazerem a intermediação com prefeitos para liberação de recursos, o que por si
só seria uma não-conformidade.
Nova postura
A exoneração do ministro Ribeiro foi uma
mudança de postura de Bolsonaro, que costuma resistir à demissão de auxiliares
quando sofrem denúncias da imprensa. Geralmente, elas só ocorrem quando o
desgaste político começa realmente a incomodar os aliados do governo no
Congresso, ainda mais em se tratando de um ministro alinhado ideologicamente
com o presidente da República.
O Ministério da Educação é considerado
estratégico por Bolsonaro, que estabeleceu como uma de suas prioridades
combater a influência de intelectuais e educadores de esquerda na política do
educacional do governo. Essa orientação era preconizada pelo falecido escritor
Olavo de Carvalho, que combatia o chamado “marxismo cultural”, como chamava a
histórica influência das ideias progressistas na cultura e na educação.
Santista, Ribeiro é graduado em teologia
pelo Seminário Presbiteriano do Sul, doutor em educação pela Universidade de
São Paulo (USP) e mestre em direito constitucional pela Universidade
Presbiteriana Mackenzie, da qual foi vice-reitor. Pastor da Igreja Presbiteriana,
chegou a ser denunciado pela Procuradoria-Geral da República (PGR) por crime de
homofobia. Ribeiro atribuiu a homossexualidade a “famílias desajustadas”.
A dura reação às denúncias por parte da
oposição e dos setores ligados á educação pública, gratuita e laica não foi a
causa principal da demissão. As evidências de que existia um esquema de
corrupção no Ministério da Educação, anterior até à chegada de Ribeiro, criaram
um clima favorável à instalação de uma comissão parlamentar de inquérito no Congresso
para investigar o caso. O alarme de perigo à vista no Palácio do Planalto, do
qual os dois pastores eram frequentadores habituais, selou o destino do
ministro.
Um dos mantras do presidente Jair Bolsonaro
e dos seus aliados é de que não há corrupção no governo. Nesse escândalo,
marcado pelo simbolismo inédito do pedido de barra de ouro, o principal
beneficiário eleitoral seria o ex-juiz Sérgio Moro, pré-candidato a presidente
da República, que empunha a bandeira da Lava-Jato.
Eduardo e Doria
O governador do Rio Grande do Sul, Eduardo
Leite, anunciou ontem que está deixando o cargo. Em entrevista coletiva no
Palácio Piratini, anunciou também que pretende permanecer no PSDB. A decisão de
Leite pôs uma saia justa no governador de São Paulo, João Doria, que está sendo
pressionado a desistir da candidatura à Presidência, porque não deslancha nas
pesquisas de opinião.
No domingo, em entrevista, Doria disse que
as articulações para removê-lo da disputa em favor de Eduardo Leite são um
golpe nas prévias do PSDB, nas quais foi escolhido. Ontem, o ex-presidente
Fernando Henrique Cardoso, que apoia Doria, disse que o resultado das prévias
deve ser respeitado. À época, o governador paulista obteve 53,99% dos votos nas
prévias, enquanto Leite registrou 44,66%. O ex-senador Arthur Virgílio ficou
com 1,35% dos votantes.
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