Folha de S. Paulo
Presidente só reconhece urgência para
patrocinar mineração e ganhar poder sobre combustíveis
Jair Bolsonaro já demonstrou ser um
político pouco habilitado para situações de emergência. Depois que o mundo viu
surgir um vírus mortal, o presidente deu de ombros e, por mais de dois anos,
sustentou um desinteresse ímpar. Quando a chuva devastou cidades do Sul da
Bahia, no fim do ano passado, ele preferiu manter
uma programação de passeios de jet ski em Santa Catarina.
A serenidade do capitão se repetiu com a guerra na Ucrânia. Na largada, o Palácio do Planalto esboçou reações tímidas à invasão e se recusou a lançar um alerta para os brasileiros que viviam no país. O primeiro avião da FAB para retirar refugiados da região só deve decolar para a Polônia na segunda-feira (7).
Apesar da apatia, ninguém pode acusar
Bolsonaro de ignorar potenciais ganhos políticos em momentos de crise. Assim
que surgiram os primeiros sinais de que a guerra teria impacto no fornecimento
de fertilizantes ao Brasil, o presidente correu para usar
esse perigo a favor de um velho desejo: liberar a exploração mineral em
terras indígenas.
Uma proposta do governo com esse objetivo
existe desde 2020. Na quarta-feira (2), Bolsonaro citou a guerra como
justificativa para aprovar o projeto e buscar potássio em áreas protegidas. No
dia seguinte, o líder do governo começou a trabalhar para desengavetar o texto.
O projeto vai além dos fertilizantes.
Facilita o garimpo, o agronegócio e obras de infraestrutura nas terras
demarcadas. Além disso, a extração de potássio poderia levar anos para começar.
Cansado de comer pelas beiradas, Bolsonaro explora a urgência da guerra como
pretexto para obter avanços em sua agenda.
O presidente também cresceu o olho sobre as
bombas de combustíveis. Na quinta (3), ele disse que a Petrobras deveria
reduzir sua margem de lucro para amortecer
o impacto da alta do petróleo sobre os consumidores brasileiros. A proposta
faz sentido como medida emergencial, mas Bolsonaro também aproveita o momento
para ganhar espaço em sua queda de braço com a petroleira.
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