O Globo
Não apenas as sanções econômicas, instrumentos eficazes e necessários, atingem a Rússia, mas também as culturais, importante “soft power” do país. Essas, descabidas. A Rússia trata muito bem seus escritores, pelo menos os mortos. Dostoiévski, Gorky, Tolstói, Tchekhov, Gogol, e, sobretudo, Alexandre Pushkin, poeta considerado o precursor da moderna novela russa, são figuras que dominam as ruas e praças das principais cidades da Rússia, especialmente Moscou e São Petersburgo, terra de Putin. Os locais onde moraram tornaram-se quase todos museus. Mas o mundo está tratando os escritores e artistas russos, do século XIX e os atuais, de uma maneira insana, como se a invasão da Ucrânia transformasse todo artista russo, vivo ou morto, em inimigo da Humanidade, e não seu patrimônio.
Para ele, a ambição original pós-comunismo era uma integração com União
Européia, desde a reunificação da Alemanha em 1990. O único pleito russo, feito
pelo então Ministro das Relações Exteriores da Rússia Eduard Shevardnadze a
Helmut Kohl, chanceler da Alemanha, foi não ampliar o Tratado do Atlântico
Norte (OTAN). O compromisso foi rompido no governo de George W. Bush, e a OTAN
cresceu muito. Foram-se os tempos em que Bush e Putin dançavam ao som de
músicas típicas russas, conforme um vídeo que corre pela internet.
No entanto, ao invadir a Ucrânia, como bem lembrou o ex-chanceler brasileiro
Celso Lafer na Globonews, a Rússia rompeu o Memorando de Budapeste sobre
Garantias de Segurança, acordo político cujos signatários originais foram a
Rússia, os Estados Unidos e o Reino Unido, em dezembro de 1994. Mais tarde
China e França aderiram ao tratado. Na anexação da Crimeia em 2014, os Estados
Unidos já advertira a Russia de que aquele tratado estava sendo rompido.
O acordo dava à Ucrânia garantias para que assinasse o Tratado de
Não-Proliferação de Armas Nucleares, inclusive contra “ameaças ou uso da força
contra a integridade territorial ou a independência política da Ucrânia”, assim
como as da Bielorrússia e do Cazaquistão. Os dois últimos hoje são governados
por aliados de Putin. Em contrapartida, a Ucrânia cedeu o terceiro maior
arsenal de armas nucleares do mundo entre 1994 e 1996.
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