Ex-governador paulista e ex-presidente petista participam de evento com sindicalistas em São Paulo
Victoria Azevedo, Catia Seabra / Folha de S. Paulo
SÃO PAULO - O ex-governador
Geraldo Alckmin (PSB) fez um discurso exaltado nesta quinta-feira (14)
em defesa do ex-presidente
Lula (PT), de quem deve ser o vice
na chapa presidencial para a disputa das eleições de outubro.
Diante de dezenas de sindicalistas reunidos
em São Paulo, Alckmin aumentou o tom de voz para dizer que a "luta
sindical deu ao Brasil o maior líder popular deste país".
Em seguida, já rouco e aos gritos, repetiu:
"Lula, Lula, viva Lula, viva os trabalhadores do Brasil."
Alckmin disse ainda aos representantes das
centrais que estará com eles nas eleições para "somar esforços" para
derrotar o atual
presidente Jair Bolsonaro (PL), candidato à reeleição.
Em seu discurso, Lula afirmou que é
"plenamente possível" que ele e Alckmin formem uma chapa "para
reconquistar os direitos dos trabalhadores".
"Vamos juntar as duas experiências para tentar reconstruir em quatro anos o que eles destruíram", continuou.
O petista disse ainda que o processo
eleitoral será difícil e voltou a reforçar que é importante eleger uma bancada
progressista no Congresso
Nacional para que seja possível "fazer as mudanças necessárias".
Lula também afirmou que é preciso dialogar
com todos os setores da sociedade para escrever um programa de governo e
reconstruir o país.
"Não vamos deixar ninguém de fora,
todos vão sentar à mesa. E quero ouvir e saber qual vai ser o compromisso de
cada um."
Líder nas pesquisas eleitorais, o
ex-presidente disse ainda, ao citar as condições dos trabalhadores por
aplicativo e a "contrarreforma" trabalhista espanhola, que é preciso
adaptar uma nova legislação à realidade atual. "Não queremos voltar para
trás."
Antes de começar o evento, o petista esteve
com líderes sindicais e tratou da reforma trabalhista. Segundo Ricardo Patah,
presidente da União Geral dos Trabalhadores (UGT), Lula afirmou ser favorável à
revisão de pontos, e não sua revogação.
"Ele fala em pontualmente fazer
atualizações e mudanças. Por exemplo a volta das homologações, o fim dos
acordos individuais sem a presença dos sindicatos e a regra no trabalho
intermitente. Ele confirmou que não volta o imposto sindical", diz Patah.
Segundo o deputado federal e presidente
nacional do Solidariedade, Paulinho da Força, Lula disse aos presidentes das
centrais "vocês falam o que quiserem, depois podem encher meu saco em
Brasília".
O presidente da Força Sindical, Miguel
Torres, afirmou que Lula recomendou que os sindicalistas definissem uma
proposta clara com reivindicações para apresentar a ele e "cobrar depois
em Brasília".
"O Lula disse que tem coisas na
reforma [trabalhista] que não dá mais para mexer, por isso que temos que levar
uma proposta clara do que queremos."
De acordo com o presidente da CUT (Central
Única dos Trabalhadores), Sérgio Nobre, Lula afirmou que a revisão da reforma
trabalhista "não será uma medida autoritária, mas construída na
negociação".
"Este ato é um clamor da classe
trabalhadora para mostrar a Lula que a candidatura dele é a única esperança de
botar o Brasil no eixo de novo", diz Nobre.
Segundo ele, o petista tem ponderado em
suas conversas sobre o esforço que a corrida eleitoral exige. Desta forma, o
ato serviria para que o ex-presidente ouvisse relatos dos trabalhadores de
todos os segmentos numa tentativa de explicitar a importância da candidatura
dele.
Como a Folha mostrou, o PT
irá propor a revogação da reforma trabalhista no programa da federação
partidária que formará com PV e PC do B, embora Lula reconheça entraves para a
iniciativa. O novo texto ainda será submetido à aprovação das demais legendas.
O tema foi debatido na reunião do diretório
nacional da sigla nesta quarta-feira (13), que também aprovou, por 68 votos a
16, a indicação do nome do ex-governador Alckmin (PSB)
para compor a chapa
de Lula como vice-presidente.
No encontro com sindicalistas, Lula disse
ainda que será preciso realizar uma reforma tributária que "leve em conta
que quem ganha mais, deve pagar mais" e voltou a afirmar que é preciso
"colocar o pobre no orçamento".
Ele também afirmou que é preciso tornar a
geração de empregos uma "obsessão" de todas as pessoas.
Uma das preocupações dos organizadores do
evento desta quinta era evitar que ele fosse caracterizado como um ato de
campanha, o que seria ilegal.
Quando, por exemplo, o auditório da Casa de
Portugal atingiu a sua capacidade, dirigentes das centrais pediram que os
sindicalistas desocupassem a rua para que não configurasse um ato a céu aberto.
Não houve nenhuma distribuição de panfletos e as faixas dispostas no local eram
das sindicais.
Após a aprovação da indicação do nome de
Alckmin para compor a chapa, o tema agora será levado ao encontro nacional do
partido, que será realizado nos dias 4 e 5 de junho. A larga vantagem dos votos
no diretório é um indicativo do que poderá acontecer no evento, uma vez que sua
composição reflete a correlação de forças dentro do PT.
Texto aprovado pelo diretório, que indica a
aprovação da aliança e da composição da chapa, diz que o PT deve buscar ampliar
o apoio ao ex-presidente Lula "em outros setores políticos e
sociais do campo democrático" para derrotar o presidente
Jair Bolsonaro (PL), num processo eleitoral "que já se revela o mais
duro desde a redemocratização do país".
"A eleição presidencial deste ano
colocará em disputa dois projetos muito claros: o da democracia e o do
fascismo", diz o texto.
A resolução também afirma que a candidatura
de Lula é a que tem "reais possibilidades de aglutinar a maioria da
sociedade".
O documento diz ainda que a coligação
nacional com o PSB é um "importante passo na direção almejada".
"Confirmará nossa disposição de, no governo, implementar um programa de reconstrução e transformação do Brasil, ampliando nossa base social."
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