Folha de S. Paulo
Alckmin é o vice do diálogo entre
diferentes; Braga Netto é o vice da ameaça e do confronto
O Diretório Nacional do PT aprovou por
ampla a maioria —68 votos a 16— a
indicação do ex-tucano Geraldo Alckmin (PSB) para vice na chapa encabeçada por
Lula. O Encontro Nacional deve referendar a aliança.
Nesta quinta, com a garganta destreinada
para frases tonitruantes, o ex-governador de São Paulo bradou
num encontro com centrais sindicais: "A luta de vocês, a luta
sindical, deu ao Brasil o maior líder popular deste país: Lula! Lula! Viva
Lula! Viva os trabalhadores do Brasil!"
Aquele a quem se chamou muitas vezes, o que
sempre me pareceu impróprio, "Picolé de Chuchu" pôs uma inusitada
dose de pimenta retórica em sua saudação, o que causou certo estranhamento.
Mesmo num texto talhado para ser apenas noticioso, este jornal registrou até em
título na homepage, que o ex-governador se
manifestara "aos gritos". Sabe quem não grita nunca —não que a
gente ouça ao menos? O general Braga Netto.
O ex-ministro da Defesa e hoje assessor
especial da Presidência é cotado para ser
vice na chapa de Jair Bolsonaro. A alternativa —e ambos estão lá a fazer
uma luta intestina de pijamas— é o também general Augusto Heleno, um tantinho
mais estridente, mas, ainda assim, mais eficaz nos corredores do poder do que
nos palanques.
A sua robusta contribuição à vida pública foi ter chamado, na campanha de 2018, todos os políticos do Centrão de ladrões. Se estiver certo, seu chefe entregou a chave do cofre a uma quadrilha, com quem os dois militares da reserva dividem hoje a, por assim dizer, governança do país.
Ocorre-me agora, leitores, um paralelo para
o qual, até onde me lembre, ninguém atentou. Quem decide ter Alckmin como
parceiro de chapa parece não ter medo do impeachment, não é mesmo? Para a
consideração que farei aqui, pouco importa a disposição subjetiva que teria o
eventual vice de Lula para participar de alguma articulação em favor da
deposição do titular.
Estamos falando de um político
de perfil conciliador, mais próximo do conservadorismo —que nunca foi
sinônimo de "reacionarismo"— e que contava com a simpatia do
establishment econômico em 2018, ainda que os liberais de fancaria destas
plagas, naquela jornada, tenham preferido o "Mito" já no primeiro
turno.
Ao fazer essa composição, o ex-presidente
parece anunciar que pretende diálogo com seus adversários históricos, que,
sejamos claros, veriam com gosto o vice em lugar do titular em caso de vitória
da chapa.
Vale por um "nada temo". E
Bolsonaro? Observem que nem ele quer, não até agora ao menos, um nome do
Centrão nem o Centrão faz questão. Se Alckmin é a opção que decorre de uma
aliança e significa um aceno ao diálogo, Braga Netto (o mais provável) e Heleno
valem por uma ameaça.
A exemplo do que fez em 2018, o
"capitão" indica um general como a dizer: "Não tentem me tirar
que pode ser pior". E olhem que, em muitos aspectos, Hamilton
Mourão é um tanto mais ilustrado do que a dupla. Vale dizer: ao mudar de
general, o capitão optou por uma degradação política, intelectual e
institucional. "Grita" desde já, se reeleito, novos confrontos.
Entender a natureza desse jogo é
fundamental para determinar escolhas éticas —entre, ao menos, os que podem
fazê-las porque não oprimidos por carências e circunstâncias que não são de sua
vontade. Vejam, no entanto, os postulantes à terceira via. Estão de tal sorte
empenhados na autodestruição que parecem satisfeitos em ganhar a batalha num
cenário paralelo.
Nessa toada, é claro que o vencedor não
terá as batatas. Ciro Gomes, entendo, também
exercita o discurso "nem-nem", que considero inviável, só que com
viés progressista e muitas vezes correto. Estar certo não basta.
"Então é Lula ou Bolsonaro?" Não sou doido de, em abril, descartar que se possa construir um terceiro nome para outubro. Difícil? Muito! Qualquer que seja o eixo para tentar estruturar essa alternativa, uma questão precede todas as outras, e isso vale também para quem não é político: no embate entre a corda e o pescoço, a isenção estará sempre a favor da corda e contra o pescoço. Não se trata de ganhar ou perder. A escolha, reitero, é ética, além de moral.
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