Correio Braziliense
As negociações da terceira
via estão sendo conduzidas como um jogo de perde-perde, na base da conspiração
e das traições, o que sempre dificulta os acordos
É profundo o mal-estar no PSDB em razão das
declarações do presidente da legenda, Bruno Araújo, num encontro reservado com
quatro empresários paulistas, no qual revelou que a candidatura do ex-governador
João Doria será removida no encontro dos partidos da chamada terceira via
marcado para 18 de maio. A conversa foi gravada sem o tucano saber e vazou,
confirmando o que todos já sabiam nos bastidores. Araújo é aliado do
ex-governador mineiro Aécio Neves na operação para remover a candidatura de
Doria.
A surpresa foi o fato de Bruno revelar que
também não tem a intenção de apoiar o ex-governador gaúcho Eduardo Leite, que
continua trabalhando para ser candidato a presidente da República, mas, sim, a
senadora Simone Tebet (MS), pré-candidata do MDB. Não é o caso de Aécio Neves.
Em outras circunstâncias, a gravação custaria o cargo de presidente do PSDB,
mas não foi o que aconteceu, porque a conspiração é forte na bancada tucana. E
o acordo feito pelos presidentes dos partidos da terceira via para escolher um
candidato único serve de escudo para Araújo.
O próprio Doria, em declarações passadas, já havia admitido não ser candidato se outro nome surgisse de fora do PSDB, com mais pegada para cumprir o papel de unificador da frente de centro. Admitiu até a possibilidade de apoiar a senadora pantaneira. Mesmo assim, quando fala que a convenção dos quatro partidos da terceira via — PSDB, Cidadania, MDB e União Brasil — escolherá o candidato, Araújo esquece de combinar com Doria. É um dá ou desce por antecipação.
Fogo amigoOntem, o deputado Luciano Bivar, presidente
do União Brasil, lançou sua candidatura a presidente da República. Foi um jogo
combinado com os presidentes das demais legendas para remover de vez a
candidatura do ex-ministro Sergio Moro e abrir mais uma frente de batalha
contra João Doria. Ao mesmo tempo, Bivar se coloca no jogo para ser o vice de
alguém, que ninguém sabe ainda quem será. O que era para facilitar a unidade
pode complicar.
Mesmo fragilizado eleitoralmente, será
muito difícil remover a candidatura do ex-governador paulista, que fala para
quem quiser ouvir que a não homologação de seu nome pela convenção da federação
PSDB-Cidadania é um assunto a ser tratado pelos advogados da legenda. Ou seja,
se Doria quiser, permanecerá candidato e recorrerá aos tribunais. Como tem um
perfil de candidato que sempre fez campanha ancorado no marketing político, por
cima das relações com os políticos — como aconteceu nas campanhas para a
Prefeitura de São Paulo e o Palácio dos Bandeirantes —, não se deve subestimar
a teimosia de Doria.
Nem a resiliência de Simone Tebet, que
conseguiu neutralizar as articulações do senador Renan Calheiros (AL) com o
ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para desestabilizar sua candidatura.
Com apoio do ex-presidente Michel Temer e do presidente do MDB, Baleia Rossi
(SP), fez do limão uma limonada: o jantar dos velhos caciques do MDB com o
petista na casa do ex-presidente do Senado Eunício de Oliveira serviu de pretexto
para a manifestação de apoio da maioria dos presidentes regionais do partido à
candidatura de Tebet. Como tirou por menos o que aconteceu, passou aos aliados
uma imagem de equilíbrio e tranquilidade diante das adversidades.
De certa forma, as negociações da terceira via estão sendo conduzidas como um jogo de perde-perde, na base da conspiração e das traições, o que sempre dificulta os acordos. Se houvesse uma trégua no fogo amigo e um pacto entre os candidatos, e não apenas entre os partidos, haveria mais possibilidades de uma candidatura unificada.
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