Revista Veja
Lula e Bolsonaro compartilham o mesmo
defeito
Lula tem dado recorrentes
declarações de que pretende revogar o teto de gastos e a reforma trabalhista,
interferir na Petrobras y otras
cositas más. Liberais, que costumam acompanhar o cenário econômico
e se lembram do que aconteceu no Brasil há poucos anos, ficam de cabelo em pé.
Praticando a infame “nova matriz econômica”
criada por Lula, Dilma interferiu na economia como nunca se viu, criou uma
devastação fiscal que derrubou o PIB em 9% e elevou aos píncaros o desemprego,
a inflação e a taxa de juros. Uma catástrofe.
Bolsonaro, por outro lado, manteve o
teto de gastos e a reforma trabalhista, fez a reforma da Previdência, o novo
marco legal do saneamento, deu autonomia ao Banco Central, aprovou a privatização
da Eletrobras e está falando até em privatizar a Petrobras. Portanto, pensam
alguns que se consideram liberais, reeditar Bolsonaro deve ser melhor do que
reeditar Lula.
Mas Bolsonaro está longe de ser economicamente bom. O governo não corta custos, o teto foi informalmente quebrado, a reforma da Previdência se deve a Rodrigo Maia. A pandemia praticamente acabou, mas o país não cresce e o desemprego não cai. A inflação, que já é similar à máxima de Dilma, “surpreendeu” o presidente do Banco Central e a taxa de juros pode bater a de 2016.
O modelo de privatização da Eletrobras é
tão ruim que melhor seria abandoná-lo e começar do zero. Na Petrobras, a
tentativa de interferência é constante, e já se falou não só em controle de
preço, mas em manipulação de verba de publicidade, e, recentemente, houve
suspeita de que a empresa seria entregue a interesses privados. Bolsonaro
cogitou privatizar a companhia porque não consegue interferir no preço, o que
sugere mera tentativa de sinalizar para o eleitorado que a alta do petróleo
está fora de seu controle. Em estatais dóceis, como Banco do Brasil e CEF,
Bolsonaro interfere sem freios. O Centrão controla o orçamento secreto e usa o
dinheiro público de maneira descontrolada, escusa e espúria — os escândalos de
corrupção pululam por toda parte. E muito mais.
Mas o que mais impressiona nesses
“liberais” não é que não vejam defeitos na política econômica de Bolsonaro. É
que só prestem atenção na economia. Afinal, a liberdade econômica é apenas uma
das muitas liberdades defendidas pelo liberalismo — e nem sequer é a mais
importante. “Liberais” que só se preocupam com economia são liberais de araque.
O capitão vem desmontando saúde, educação,
ciência, cultura, defesa do meio ambiente, direitos humanos e minorias e
interferindo em várias instituições de Estado, como PGR, Forças Armadas,
Polícia Federal. A história recente mostra que autocratas populistas como
Bolsonaro, quando chegam ao segundo mandato, quebram a espinha dorsal da
democracia liberal (vale para Chávez na Venezuela, vale para Orbán na Hungria).
Liberais de verdade têm obrigação de estar preocupados com isso.
Lula e Bolsonaro são populistas que
contrariam valores liberais: se a terceira via não decolar, liberais terão uma
escolha desagradável a fazer. Mas uma coisa é certa: os “liberais” que só
levarem em conta a questão econômica em sua escolha não são liberais coisa
nenhuma.
Publicado em VEJA de 20 de abril de 2022, edição nº 2785
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