O Globo
O golpista empoderado fecharia o Congresso
e o STF, rasgaria a Constituição e governaria como um monarca totalitário
À primeira vista, o desgraçado indulto que Jair
Bolsonaro concedeu ao deputado Daniel Silveira foi visto pelo presidente do
Congresso, senador Rodrigo Pacheco, como um ato normal que não pode ser
contestado. Depois, em entrevista ao GLOBO, disse que ele fragiliza a justiça
penal, mas é legítimo. Antes do decreto ser assinado, o presidente da Câmara,
deputado Arthur Lira, já havia enviado ofício ao Supremo Tribunal Federal em
favor de Silveira, pedindo que a Corte defina que apenas o Congresso pode
cassar o seu mandato. Os chefes da Câmara e do Senado, que deveriam defender as
instituições e a democracia que as duas Casas sustentam, condenando com
veemência a afronta de Bolsonaro, se posicionaram de maneira dúbia, com
espinhas dobradas.
Pacheco e Lira foram
condescendentes e são cegos. Não conseguem enxergar que mantida esta escalada,
mais adiante os alvos da ira antidemocrática do presidente serão eles e seus
pares. Bolsonaro se coloca acima da Constituição ao decretar que o Supremo
Tribunal errou e indultar Silveira. E o que os presidentes das casas
legislativas fazem? Nada. Apenas Pacheco fez uma breve ponderação, passando o
pano sobre o ato que chamou de constitucional e que, segundo ele, tem de ser
acatado pelo STF. O que houve, além da afronta ao Supremo, foi um insulto ao
Congresso, mas seus líderes abaixaram a cabeça. Um dia podem ser obrigados a
baixá-las para serem cortadas pelo presidente golpista.
Bolsonaro, todos sabem, é um candidato a autocrata que defende a ditadura de 1964 e faz reverência a torturadores, como o seu herói Brilhante Ustra. Se fosse mais velho e não tivesse sido expulso do Exército por baderna, certamente estaria entre a tigrada que desceu o pau nos porões do regime. Provavelmente teria se conflagrado contra o presidente Ernesto Geisel e apoiado o general Sylvio Frota na tentativa de golpe que o ministro do Exército quis aplicar contra a abertura do regime, em 1977. Bolsonaro, não tenham dúvida, seria da linha dura da ditadura.
Se consumar o golpe que vem tentando
desde 7 de setembro do ano passado, sua prática será absolutista. Não ouvirá
ninguém. Se fosse moderado, cassaria alguns ministros do Supremo e
parlamentares da oposição. Mas, não, Bolsonaro é Sylvio Frota. O golpista
empoderado fecharia o Congresso e o STF, rasgaria a Constituição e governaria
como um monarca totalitário. Pacheco, Lira e outros parlamentares do Centrão
que apoiam o governo, a maioria por razões fisiológicas, não conseguem ver o
óbvio. Aparentemente, a proximidade dos cofres públicos embaça a visão.
O objetivo de Bolsonaro
é evidente. Obviamente ele não está indultando um presidiário que cumpriu parte
da sua pena, que se comportou exemplarmente durante o encarceramento, que tem
família para criar. Ele está beneficiando um criminoso aliado do seu
agrupamento fascistóide de maneira a provocar o Supremo, gerando uma crise
institucional que beneficia seu projeto golpista. Ele quer um óbice do STF para
alegar que seus poderes constitucionais estão sendo violados. Por isso, para
reforçar a posição do tribunal, os líderes do Congresso deveriam se manifestar
de maneira firme e inequívoca contra o indulto. Não foi o que se viu.
Se com seus poderes hoje balizados pela
Constituição Jair Bolsonaro já governa cercado por generais, imaginem se o seu
golpe vingar. Seguirá escolhendo sempre generais que pensam como ele, os linha
dura, agressivos, autoritários (Braga, Ramos, Heleno) e os lambe botas (Pazuello).
Os mais inteligentes, independentes e éticos (Santos Cruz, Rêgo Barros) foram
defenestrados do governo e continuarão fora do jogo. Será com aqueles, além dos
zeros que o acompanham nas suas barbaridades, que o ditador vai compartilhar o
poder e o butim se deflagrar com êxito um golpe. Aí, não sobrará muita coisa
para Lira, Pacheco e o resto da turma.
Lambança militar
Não é necessário repetir as inúmeras
lambanças feitas em nome das Forças Armadas porque muita gente aqui do GLOBO já
tratou do assunto. Nem é preciso falar da sua desmoralização galopante. Mas é
importante voltar a uma delas, a mais grave, a que debocha da tortura. E nesse
caso, apenas para falar da estupidez do vice-presidente general Hamilton Mourão
e da ignorância do presidente do STM general Luís Carlos Gomes Mattos. Mourão
foi estúpido porque riu de uma das etapas mais tenebrosas da vida nacional.
Mattos foi burro porque não entendeu do que se tratava e chamou o episódio de
“notícia tendeciosa”. Não era notícia, era história. História vergonhosa da
qual o general agora faz parte.
Sem resposta
Bobagem decretar cem anos de sigilo sobre
dados polêmicos. O governo Bolsonaro já tapa o cheiro forte que emana do Palácio do Planalto se
recusando a responder perguntas de jornalistas sobre os malfeitos de Jair e sua
turma. Como faz sempre, desde que demitiu o ex-porta-voz general Otávio Rêgo
Barros.
O delírio de Lira
A julgar pela entrevista ao GLOBO, o
presidente da Câmara, Arthur Lira, acha que os brasileiros são idiotas. Ele
disse que o orçamento não é secreto porque os parlamentares publicam em suas
redes sociais todas as suas atividades e divulgam as emendas que aprovam para
os seus redutos eleitorais. Ocorre que houve gente de um estado que mandou
verba para outro e que agora não quer ver seu nome associado a liberações
feitas para repartir
privadamente recursos públicos. Lembra do “Tratoraço”? Em seu
delírio, Lira esqueceu de afirmar que há três meses o Congresso se nega a
atender determinação da ministra Rosa Weber de quebrar esse sigilo.
A ilusão do PT
O problema do PT é que muita gente no
partido acredita serem seus todos os mais de 40% de eleitores que dizem nas
pesquisas que vão votar no Lula em outubro. Não são. O patamar autenticamente
petista não é baixo e deve ficar em torno de 30%. Os demais estão ali
porque se desiludiram com Bolsonaro ou
não acreditam no sucesso da terceira via. Serão esses que poderão dar a vitória
a Lula e precisam ser cultivados.
Dinheiro pouco
Pesquisa da CNI revela que um em cada três
brasileiros teve sua renda reduzida nos últimos seis meses. Entre os mais
pobres, com até um salário mínimo, o percentual sobe para 47%. No Nordeste de
Lula, 42% dos brasileiros perderam fortemente o poder de compra no período. O
Datafolha já mostrava em março que os beneficiários do Auxílio Brasil julgavam
insuficiente o valor da bolsa de R$ 400. E os milzinhos do FGTS não vão nem
fazer cócegas. É
a inflação de Bolsonaro trabalhando contra o pacote de
bondades do Bolsonaro.
Paulinho ou Aécio?
Eduardo Leite preferiu esconder o
bolsonarista Aécio Neves e manter o condenado Paulinho da Força na foto oficial
da visita que fez ao presidente do Solidariedade. O ex-governador do Rio Grande
do Sul deve achar que Aécio atrapalha. O tucano de Minas trabalha pela
reeleição de Bolsonaro, de quem quer um Ministério em 2023; Paulinho foi
condenado pela primeira turma do STF a dez anos e dois meses de prisão por crime
contra o sistema financeiro, lavagem de dinheiro e associação criminosa. Só não
está recolhido porque recorreu ao plenário do tribunal. Com qual dos dois você
gostaria de posar?
De onde menos se espera...
O advogado do mal afamado deputado Daniel
Silveira se recusou a mostrar um atestado de vacina ao se apresentar para defender o indigitado parlamentar. Paulo
Faria foi obrigado a fazer um teste rápido para poder permanecer no plenário do
Supremo. O pastor Silas Malafaia disse que o “mundo evangélico” estava
decepcionado com o ministro André Mendonça que deu um voto mandrake na sessão e
não pediu vistas para atrasar o processo. Alguma surpresa? Claro que não, daí é
que não sai nada mesmo.
Aplausos
Passa da hora de render homenagens a
Anitta. Foi corajosa e
politicamente esclarecida ao responder a Bolsonaro sem se
preocupar com repercussões negativas em sua carreira. Ela disse quase tudo, só
faltou mandar o capitão parar de perder tempo com futrica e ir trabalhar.
Carnaval
E o rei Momo chegou para fazer a alegria de muita gente bamba. Um excelente carnaval para quem passa o ano esperando esses dias, para os que ganham a vida com os festejos, para os apaixonados pelas escolas e pelos amantes do samba. Que não são poucos.
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