O Globo
O Brasil avança no processo eleitoral num
momento particularmente desafiador para o mundo todo. Há mudanças substanciais
na política e na economia. Algumas estavam em andamento antes da pandemia e da
invasão da Ucrânia, mas esses dois últimos eventos mudaram o curso da História.
Não será fácil para ninguém, mas será pior aqui.
O Fundo Monetário Internacional acaba de
publicar seu Panorama Econômico, que pode ser assim resumido: mais inflação e
menos crescimento, em todos os países.
Só por aí já se poderia ver que o quadro é estranho: se há muita inflação, isso deveria ser resultado de, digamos, um excesso de crescimento. E isso seria corrigido pela ação dos bancos centrais, que, elevando juros, poriam freio no crescimento e, pois, na inflação. Haveria menos crescimento, mas, em compensação, menos inflação. Teremos, entretanto, mais inflação com menos crescimento.
E não é apenas inflação. Os índices batem
recordes históricos. Na Inglaterra, a inflação anual saltou para 7% em março, a
maior em 30 anos. Na Alemanha, foi para 7,3%, índice mais alto em 40. Para o
mundo, o FMI prevê inflação de 7,4% neste ano, quase o dobro da projeção
anterior.
A pandemia foi recessiva. A reação dos
governos — gastar montanhas de dinheiro para apoiar cidadãos e empresas — e dos
bancos centrais — calibrando juros baixíssimos, estimuladores da tomada de
empréstimos — foi providencial em determinado momento, mas, sim, gerou
inflação. Hoje, os bancos centrais estão elevando juros, e os governos
reduzindo estímulos.
Apareceu outra inflação quando a pandemia
arrefeceu. A economia voltou a funcionar, mas, como fábricas e serviços tinham
sido paralisados, as cadeias produtivas não deram conta de abastecer o mundo.
Faltaram produtos e insumos, preços subiram. Quando parecia que as coisas
poderiam se arrumar, a invasão da Ucrânia pela Rússia trouxe outra inflação: de
combustíveis e alimentos.
São, portanto, três causas bem diferentes
de alta nos preços. Dá-lhe juros. Mas quanto será suficiente? A tempo? Fato
político decorrente: populações insatisfeitas no mundo todo.
Para a expansão do PIB global neste ano, o
FMI espera 3,6% — uma forte desaceleração em relação aos 6,1% obtidos em 2021.
A recuperação pós-pandemia foi abortada. E para 2023? Vai saber. O Fundo prevê
que o crescimento continuará muito baixo, assim meio no chute. Não se sabe o
desfecho da guerra para a geopolítica global, e não se sabe se as políticas
anti-inflacionárias funcionarão.
Combustível caro, alimentos pela hora da
morte, juros na lua — eis um coquetel explosivo. Coloque o Brasil nesse
panorama: como todos, temos inflação muito alta, juros subindo e crescimento
desacelarando em relação ao ano passado. Mas temos mais — para pior. No lado do
governo, pode-se dizer que, funcionando mesmo com dignidade, está o Banco
Central. Mas não poucos observadores notam que o BC também pode ter perdido o
tempo para iniciar a alta de juros. O resultado é que a inflação dura mais —
pesando mais para os pobres —, e os juros terão de ser mais elevados, bom para
os rentistas, ruim para o resto.
Além disso, o governo é um desastre. Não
tem política de energia (exceto trocar presidentes da Petrobras) e não faz a
menor ideia de como retomar o crescimento. Na oposição, o líder, Lula,
enfileira velhas ideias que levaram à recessão com inflação — um espanto! — e
com o Estado saqueado. Nenhum lado sabe onde o Brasil deve se colocar no quadro
global. Precisamos urgentemente de ideias e líderes.
Lava-Jato
O Superior Tribunal de Justiça confirmou
nesta semana a condenação de José Dirceu a 27 anos de prisão por corrupção,
lavagem de dinheiro e associação criminosa. Sabe de onde vem o processo? Pois
é, tem um restinho de Lava-Jato por aí.
A condenação foi em terceira instância,
mas, como o STF derrubou a prisão em segunda instância, Dirceu fica livre
enquanto tiver recursos. E deve ter melhor sorte no STF.
Nenhum comentário:
Postar um comentário