Folha de S. Paulo
A indulgência cúmplice de Arthur Lira e de
Rodrigo Pacheco legitima Bolsonaro contra o STF
O perdão de Bolsonaro ao deputado Daniel Silveira (PTB-RJ),
um dia depois da condenação pelo Supremo Tribunal Federal, leva o país ao
limiar da anarquia institucional, seja qual for o desfecho de mais essa crise,
calculada com o propósito de elevar a tensão entre os poderes, às vésperas da
campanha eleitoral.
O ato de Bolsonaro, antes mesmo do trânsito
em julgado da sentença, afronta os magistrados, o STF, a democracia, a
Constituição e o Estado de Direito. Bolsonaro está mostrando a seus comparsas
que o crime compensa e que podem contar com a proteção da maior autoridade do
Executivo, disposta a esticar a corda e deixar que ela arrebente.
Bolsonaro age com método e estratégia para desmoralizar as instituições e incendiar o país. Engana-se quem acha que tudo vai se resolver, como num passe de mágica, com as eleições de outubro. Chegaremos até lá? Já não está claro que a extrema direita tentará um golpe?
Só um impeachment poderia evitar a catástrofe no horizonte. Mas essa é uma esperança perdida. A indulgência cúmplice de Arthur Lira e de Rodrigo Pacheco legitima Bolsonaro no enfrentamento com o STF. Discute-se a decisão do presidente do ponto de vista de uma querela jurídica quando se trata, essencialmente, de uma questão política. O procurador-geral da República, Augusto Aras? Foi visto flanando em Paris.
Tudo isso acontece num ambiente de
degradação democrática do qual não escapa nenhum mecanismo institucional.
A Lei Rouanet, destinada a fomentar a cultura, tornou-se
instrumento de promoção do armamento da população. Autoridades sentem-se à
vontade para zombar de quem foi torturado na ditadura, com declarações cínicas
e desavergonhadas.
Quando se chega a esse ponto e tudo fica
como está é porque a sociedade naturalizou o inaceitável, perdeu a capacidade
de se indignar e de cobrar o mínimo de decência das instituições e das
autoridades que as representam. E é assim que se perde um país.
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