O Globo
A oposição faz um movimento equivocado e
perigoso ao criticar reiteradamente os militares, e não apenas os maus
militares. O Brasil precisa —e muito — de Forças Armadas bem equipadas, bem
treinadas e profissionais.
O último episódio desse movimento equivocado de críticas aos militares foi a denúncia sobre a compra de 35 mil unidades de Viagra, o famoso medicamento para disfunção erétil. Essa “denúncia” teria qual propósito? Constranger os militares? O sildenafil, princípio ativo do Viagra, é comprado pelo SUS desde 2012!
Essa denúncia é semelhante a outra, de
2021, o “escândalo” da compra de leite condensado pelo Ministério da Defesa.
Logo se descobriu que muitos outros entes públicos efetuavam gastos expressivos
com leite condensado —ingrediente básico de muitas receitas —para abastecer
restaurantes como os universitários.
Nos dois casos, trata-se de compras banais,
realizadas há muitos anos e por muitos órgãos de governo. Essas denúncias e
escândalos parecem simplesmente querer atacar os militares, que se sentem
perseguidos pela imprensa e por lideranças civis.
As críticas parecem motivadas pelo
entendimento equivocado de que os militares apoiam Bolsonaro —de forma que, ao
atacar supostos privilégios e abusos, estariam atacando uma base de apoio do
governo. Mas, como a demissão do general Fernando Azevedo e Silva no ano
passado demonstra, há bons militares, que sabem muito bem separar a missão
constitucional de proteger o país do apoio às aventuras autoritárias do
presidente.
É preocupante essas críticas generalizadas
da oposição aos militares muitas vezes chegarem a ponto de pôr em xeque a
própria necessidade de termos Forças Armadas no Brasil. Nada poderia ser mais
temerário.
Como o exemplo recente da Ucrânia
demonstra, mesmo se não podemos ser uma potência militar, é fundamental dispor
de Forças Armadas bem estruturadas para conter e desestimular uma agressão
externa. Ainda que não haja ameaças concretas na região, o cenário geopolítico
se move mais rapidamente do que a capacidade de estruturar a defesa. Por isso é
fundamental estar sempre preparado.
Precisamos de um Exército bem treinado, bem
equipado e profissional. Precisamos apoiar e desenvolver nossa indústria
bélica, que já foi mais pujante, mas ainda hoje produz aviões com a Embraer,
helicópteros com a Helibras e armas com a Taurus. Precisamos concluir o custoso
e ambicioso projeto do submarino nuclear brasileiro. Ele nos colocaria ao lado
de apenas seis potências —Rússia, Estados Unidos, França, China, Reino Unido e
Índia —que dominam a tecnologia. Uma indústria armamentista doméstica forte e
diversificada nos daria segurança em caso de ameaças.
Precisamos, por um lado, reestruturar a
carreira militar, oferecendo melhores salários para as fases finais da
carreira, que pagam menos do que atividades civis análogas. Precisamos, por
outro, acabar com os privilégios previdenciários dos militares, igualando suas
condições àquelas dos demais trabalhadores brasileiros. Precisamos, por fim,
profissionalizar e despolitizar a atividade militar, que, na formação, ainda
celebra a participação na ditadura.
As críticas recentes da oposição contra a
compra de Viagra ou de leite condensado não estão dirigidas aos maus militares
que colaboram com os abusos do presidente ou celebram violações de direitos
humanos na ditadura. Por isso são percebidas pela corporação como perseguição
aos militares em geral e aprofundam o sentimento de desconfiança que muitos
sentem em relação aos civis. Num momento em que são seduzidos por um projeto
político populista e autoritário, essas críticas tolas e injustas apenas os
empurram para o colo de Bolsonaro.
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