sábado, 23 de abril de 2022

Pablo Ortellado: Precisamos valorizar os bons militares

O Globo

A oposição faz um movimento equivocado e perigoso ao criticar reiteradamente os militares, e não apenas os maus militares. O Brasil precisa —e muito — de Forças Armadas bem equipadas, bem treinadas e profissionais.

O último episódio desse movimento equivocado de críticas aos militares foi a denúncia sobre a compra de 35 mil unidades de Viagra, o famoso medicamento para disfunção erétil. Essa “denúncia” teria qual propósito? Constranger os militares? O sildenafil, princípio ativo do Viagra, é comprado pelo SUS desde 2012!

Essa denúncia é semelhante a outra, de 2021, o “escândalo” da compra de leite condensado pelo Ministério da Defesa. Logo se descobriu que muitos outros entes públicos efetuavam gastos expressivos com leite condensado —ingrediente básico de muitas receitas —para abastecer restaurantes como os universitários.

Nos dois casos, trata-se de compras banais, realizadas há muitos anos e por muitos órgãos de governo. Essas denúncias e escândalos parecem simplesmente querer atacar os militares, que se sentem perseguidos pela imprensa e por lideranças civis.

As críticas parecem motivadas pelo entendimento equivocado de que os militares apoiam Bolsonaro —de forma que, ao atacar supostos privilégios e abusos, estariam atacando uma base de apoio do governo. Mas, como a demissão do general Fernando Azevedo e Silva no ano passado demonstra, há bons militares, que sabem muito bem separar a missão constitucional de proteger o país do apoio às aventuras autoritárias do presidente.

É preocupante essas críticas generalizadas da oposição aos militares muitas vezes chegarem a ponto de pôr em xeque a própria necessidade de termos Forças Armadas no Brasil. Nada poderia ser mais temerário.

Como o exemplo recente da Ucrânia demonstra, mesmo se não podemos ser uma potência militar, é fundamental dispor de Forças Armadas bem estruturadas para conter e desestimular uma agressão externa. Ainda que não haja ameaças concretas na região, o cenário geopolítico se move mais rapidamente do que a capacidade de estruturar a defesa. Por isso é fundamental estar sempre preparado.

Precisamos de um Exército bem treinado, bem equipado e profissional. Precisamos apoiar e desenvolver nossa indústria bélica, que já foi mais pujante, mas ainda hoje produz aviões com a Embraer, helicópteros com a Helibras e armas com a Taurus. Precisamos concluir o custoso e ambicioso projeto do submarino nuclear brasileiro. Ele nos colocaria ao lado de apenas seis potências —Rússia, Estados Unidos, França, China, Reino Unido e Índia —que dominam a tecnologia. Uma indústria armamentista doméstica forte e diversificada nos daria segurança em caso de ameaças.

Precisamos, por um lado, reestruturar a carreira militar, oferecendo melhores salários para as fases finais da carreira, que pagam menos do que atividades civis análogas. Precisamos, por outro, acabar com os privilégios previdenciários dos militares, igualando suas condições àquelas dos demais trabalhadores brasileiros. Precisamos, por fim, profissionalizar e despolitizar a atividade militar, que, na formação, ainda celebra a participação na ditadura.

As críticas recentes da oposição contra a compra de Viagra ou de leite condensado não estão dirigidas aos maus militares que colaboram com os abusos do presidente ou celebram violações de direitos humanos na ditadura. Por isso são percebidas pela corporação como perseguição aos militares em geral e aprofundam o sentimento de desconfiança que muitos sentem em relação aos civis. Num momento em que são seduzidos por um projeto político populista e autoritário, essas críticas tolas e injustas apenas os empurram para o colo de Bolsonaro.

 

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