Blog do Noblat / Metrópoles
O governo militar eleito está degradando a
imagem militar muito mais do que o governo militar golpista, tanto dentro
quanto fora do país
Durante 21 anos de regime militar, as
Forças Armadas foram temidas e criticadas, mas havia respeito, temeroso e
indignado. Depois desse período, as Forças Armadas se recolheram aos quarteis e
ao respeito somou-se admiração. Em 2018, um capitão e um general foram eleitos
e levaram o Exército de volta ao poder, comprometendo as FFAA. Os eleitos
representam seus partidos, não as instituições a que pertencem. Mas os soldados
– Presidente, Vice-Presidente e os muitos militares – que foram eleitos em 2019
optaram por comprometer o Exército, a Marinha e a Aeronáutica nos erros do novo
governo.
Em consequência, a partir de 2019, nossas Forças Armadas começaram a degradar sua imagem, em função do destempero irresponsável de um presidente despreparado para o cargo; da incompetência de ministros incompetentes para gestão; da falta de empatia diante do sofrimento dos doentes e mortos pela epidemia e dos mortos sob tortura durante a ditadura; diante também dos desperdícios de gastos com compras desnecessárias e até ridículas; por suspeitas de corrupção e conivência com ameaças às instituições democráticas e pelo desprezo diante de nossas riquezas naturais e nossos povos indígenas.
O governo militar eleito está degradando a
imagem militar muito mais do que o governo militar golpista, tanto dentro
quanto fora do país. Depois de quase quatro anos de governo, a imagem das FFAA
está desgastada e ridicularizada, debochada em alguns momentos. Isto não é bom
para o Brasil.
Um país com nossa dimensão precisa
de FFAA fortes, preparadas, profissionais,
bem equipadas e, sobretudo respeitada pela população, uma instituição de todos,
sem partidarismo e sem comprometimento com os erros do governo do momento,
passageiro como todos governos.
Por isto, o Brasil precisa retomar
confiança e respeito por seus soldados, e não há outra forma, salvo eles se
descomprometerem com os erros do governo e retornarem aos quarteis.
As FFAA não deveriam ser um partido, mas
parece que se preparam para disputar eleição com uma chapa puro sangue militar.
Se perderem, voltarão aos quarteis rejeitadas; se ganharem, ficarão mais quatro
anos com o atual presidente, e a desmoralização será ampliada. Se decidirem
apoiar ruptura na ordem democrática, poderão ficar mais tempo, adiarão a saída,
mas sairão do poder com a imagem ainda mais desgastada, como mostra a
experiência no Brasil e em todas partes.
Todo cidadão, civil ou militar, tem direito
de se candidatar, mas sem levar as FFAA como reféns de líderes ou seus
partidos. O Brasil precisa de seus soldados respeitados, profissionalizados na
caserna. Se forem patriotas, voltem aos quarteis.
*Cristovam Buarque foi senador, ministro e
governador
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