O Globo
Os idos de março, início de abril, marcam o
afunilamento das negociações para uma candidatura mais robusta de centro, ou
centro-direita, mas, por ora, isso não se traduzirá em crescimento de nenhum
dos postulantes a uma ainda nebulosa terceira via. Além disso, qualquer acordo
nesse sentido ainda levará de 45 a 60 dias.
A esperada saída de Sergio Moro do páreo
presidencial dividiu as atenções do país com mais cenas do esporte preferido do
PSDB: o tucanocídio.
Ao longo de horas, João Doria ameaçou
implodir o partido em São Paulo, único estado em que ainda é de fato grande,
caso não obtivesse garantia da seção nacional do partido de que será candidato
a presidente.
Obteve uma nota que, na prática, não é garantia de nada, se desgastou com os aliados que ainda tinha e com o sucessor, Rodrigo Garcia, que agora encontrou a desculpa que procurava para conduzir sua candidatura absolutamente apartada da imagem do antecessor, e segue com o mesmo problema: existe uma conversa avançada com União Brasil e MDB para um candidato único, e ele não é o favorito nesse páreo. “A prévia do PSDB está contida num acordo maior. Aquele papel amanhã servirá para embrulhar peixe”, me disse um dirigente desse conjunto de partidos depois da solenidade em que Doria reafirmou sua pré-candidatura à Presidência.
No fim, a nota serviu como uma tábua de
salvação para Doria sair da confusão que ele mesmo armou. Há quem pense que
apenas blefou, mas ele realmente avisou a Rodrigo Garcia que não renunciaria, e
bombeiros de todas as partes tiveram de atuar para a saída que acabou se vendo,
com discursos constrangidos, sorrisos amarelos e olheiras de todos denunciando
a madrugada insone.
A saída de Moro é uma boa notícia para os
que sonham com um candidato único de centro-direita, assim como o aumento do
isolamento de Doria no PSDB poderá contar pontos a favor de uma chapa que reúna
Simone Tebet e Eduardo Leite, não se sabe em que ordem. Mas isso será
suficiente para carrear para esse campo aquilo que ele ainda não tem: voto?
Não. E, quanto mais esse teatro de bastidores recheado de traições e amadorismo
durar, melhor para Lula e Bolsonaro.
O presidente que ontem exaltou, uma vez
mais, a ditadura que matou, torturou, cassou direitos de partidos e políticos e
censurou a imprensa deverá ser o beneficiário imediato da saída de Moro do
jogo. O eleitor do ex-juiz era aquele bolsonarista que andava meio de bode do
capitão, mas que, sem opção, voltará para ele, ao menos por um tempo, até que
encontre outro candidato.
Quanto mais essa chapa de centro demorar a
ganhar corpo, menos espaço sobra para que conquiste um eleitorado consistente,
capaz de tirar Bolsonaro, que está de novo com praticamente 30% das intenções
de voto, do segundo turno.
Para que esse projeto tenha corpo, ele tem
de representar algo novo, que tenha uma agenda, que faça uma proposta para o
Brasil capaz de dialogar com problemas como fome, desigualdade, emergência
ambiental e climática, transição energética, costura de uma democracia a cada
dia vilipendiada pelo presidente e recuperação da Educação que o presidente
transformou em plataforma de arruaça ideológica.
Até aqui, Lula também não mostrou ideias
novas em nenhum desses campos. Seu discurso se resume a um ressentimento em
relação à própria prisão e ao impeachment de Dilma Rousseff e à oscilação, na
economia, entre o Lula da Carta ao Povo Brasileiro e aquele de 1989.
São essas ambiguidades que estão tirando o antipetismo do armário. Como em 2018, Bolsonaro é o único em campo explorando esse filão. O centro, enquanto isso, empreende essa guerra a céu aberto, como se estivesse disputando o topo nas pesquisas, e não um espólio que hoje não chega a 10%.
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