Folha de S. Paulo
O problema é que, quando saísse, o
Dicionário já estaria desatualizado
A ideia de um Dicionário Brasileiro da
Corrupção, lançada
esportivamente aqui na quinta-feira (31), caiu bem para muitos
leitores. Um ou outro perguntou se era um projeto meu. A resposta é não, até
porque não é tarefa para uma pessoa. Sua produção exigiria um batalhão de
historiadores, economistas e cientistas políticos e sociais dispostos a aturar
o fedor de nossos governos e instituições.
Nesse Dicionário, nenhum governante sairia ileso. Os da Primeira República (1889-1930) mantiveram o país sob o mais grosso atraso por 40 anos, com eleições viciadas, desenvolvimento zero e 80% de analfabetos, enquanto sustentavam os oligarcas do café. Getúlio, em 1930, tomou medidas modernizantes, mas a ditadura do Estado Novo (1937-45) foi um festival de cupinchas e interventores corruptos, sem falar em prisões, torturas, mortes, Congresso fechado, censura e o monumental culto à sua personalidade. Corrupção não é só roubar.
O período constitucional (1946-64) teria
também muito de podre a dizer, com destaque para a construção de Brasília por
JK. A ditadura que se seguiu (1964-85) foi uma farra de obras faraônicas,
fortunas repentinas, "milagres" maquiados, recessões e calotes, além
das crueldades inerentes às ditaduras. Depois tivemos Sarney, Collor, FHC,
Lula, Dilma e Temer, com seu rico histórico de licitações fraudadas, planos
econômicos, confiscos, paraísos fiscais, reeleição comprada, estelionato
eleitoral, mensalão, petrolão, malas de dinheiro etc. E agora, sob Bolsonaro e
seus ferrabrases civis e fardados, vivemos o acanalhamento geral do Brasil, com
risco de nova ditadura, esta abertamente fascista.
O Dicionário não trataria só dos
presidentes, mas também de seus operadores e beneficiários na área política e
empresarial. Os quais sempre foram legiões.
Ele contribuiria para uma desratização do país. O problema é que, quando saísse, já estaria desatualizado.
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