Valor Econômico
Moro, Doria e Leite travam terceira via até julho
De uma maneira atabalhoada, com um pouco de
teatro do absurdo, o desenho e o destino dos candidatos da terceira via
tornou-se mais nítido nesta quinta-feira. Está mais claro agora que os
adversários de Bolsonaro e Lula no campo da centro-direita irão perder dois
meses, talvez três, em negociações, propostas, contrapropostas, chantagens e
bravatas até chegarmos ao momento das convenções.
Se em julho sair um candidato único do arco formado por PSDB, União Brasil, MDB, Cidadania e Podemos, gera-se um fato novo que pode dar à terceira via alguma chance de competir, com perspectivas muito modestas de êxito, mas talvez consistentes a ponto de influir no debate do segundo turno, dependendo de quem for o ungido. Sem isso, a eleição está resolvida. Para que fique claro: a chance maior é que a união não seja conseguida.
Sergio Moro retirou-se de campo. Em nota,
ao confirmar a troca do Podemos pelo União Brasil, disse que abre mão, “neste
momento”, da pré-candidatura presidencial.
No União Brasil, aliás bastante desunido
entre os egressos do antigo DEM e os do PSL, o secretário-geral da sigla, ACM
Neto, organizou uma nota assinada por toda velha guarda de sua legenda de
origem, em que dizem que “neste momento” não há hipótese de concordarem com a
pré-candidatura do ex-ministro da Justiça. Se “neste momento” a pré-candidatura
está cancelada, significa que em outro momento, diferente do atual, quem sabe
não seja ressuscitada.
O espólio de Moro é pequeno, mas relevante entre pretendentes na terceira via da centro-direita. Tem ali de 6% a 10%. Segundo o cientista político Antonio Lavareda, do Ipespe, haverá dispersão deste patrimônio. Grande parte migra para Bolsonaro, que tende a ficar acima de 30% nas próximas pesquisas, outra parte marcará opção por brancos e nulos, pequena parte deve vitaminar Ciro Gomes (PDT). Migração para João Doria (PSDB), Eduardo Leite (PSDB) ou Simone Tebet (MDB) “neste momento” não haverá.
Doria reagiu de forma brutal à ofensiva de
Eduardo Leite para que a convenção do PSDB repense o resultado das prévias de
novembro, ocasião em que o paulista o derrotou. Sinalizou que iria desistir da
candidatura e da desincompatibilização, provocando pânico e revolta no PSDB
local e em seus aliados.
Desistiu da desistência quando recebeu por
escrito uma garantia do presidente nacional do PSDB, Bruno Araújo, de que a
legenda está assegurada para que ele concorra à Presidência.
Este movimento todo só na aparência deixou
as coisas no mesmo lugar onde estavam até quarta-feira no começo da tarde. O
gesto de Doria o fragiliza no mundo político, ao passar uma imagem de
instabilidade e imprevisibilidade. Neste meio há casos de acordos tácitos feito
com gestos, com o olhar, não sendo necessários papel passado e firma
reconhecida. É um universo de palavras empenhadas, fio do bigode, cumprimento
de acordos e, claro, punhaladas pelas costas.
Não é esse o sistema em que Doria opera.
Para ele, o governador que o sucede, Rodrigo Garcia, é um “CEO”. Gosta de
cronometrar os encontros, vive uma cultura empresarial.
Tanto Doria não se fortaleceu que Eduardo
Leite não tirou o pé do acelerador. Segundo aliados seus, ouvidos pelo repórter
Marcelo Ribeiro, pretende estabelecer um “QG” em São Paulo, para aguardar a sua
hora. Ou seja, a carta timbrada e assinada pelo presidente do partido
garantindo a candidatura a Doria não está sendo comprada pelo valor de face.
Leite parece jogar com o tempo para desbancar o rival tucano e ficar com a
candidatura. Moro parece adotar a mesma estratégia também. O paulista só
dormirá sossegado depois de sagrado em convenção. Até lá, tende a ser arrastado
pelo debate sobre sua viabilidade.
Bem contra o mal
Uma autoridade local no Rio Grande do Norte
ficou perplexa com o que viu na quarta-feira, durante a solenidade de entrega
de uma estação da CBTU em Parnamirim, com a presença do presidente Jair
Bolsonaro. Ela relata que foi organizada uma fila exclusiva para credenciamento
de pastores.
Pesquisas indicam que Bolsonaro só tem o
apoio de um a cada seis potiguares. Lula fica com quatro. O tom místico da fala
do presidente no evento e os cânticos de louvor entoados durante a cerimônia
indicam que não é com a máquina de prefeitos que o ministro do Desenvolvimento
Regional Rogério Marinho arregimentou para sua candidatura ao Senado que o
presidente pretende minorar esta situação.
Um eleitor que faz uma escolha de voto por
receber na sua região uma obra, ou um benefício em dinheiro, ou mesmo um
emprego, bem ou mal faz uma escolha racional. Isto não é suficiente para o
presidente. Ele precisa que a escolha seja emocional, baseada na pauta de
costumes. Daí o discurso da luta entre o bem e o mal.
Bola com o Congresso
O Tribunal Superior Eleitoral deve emitir
em breve uma sinalização ao Congresso Nacional de que não irá interferir caso
deputados e senadores decidam fechar uma brecha que deixaram aberta para que a
Justiça decida quanto cada candidato pode gastar nas eleições deste ano.
O caso já foi tema desta coluna há duas
semanas. Trata-se do seguinte: o Legislativo no ano passado elevou de R$ 1,7
bilhão para R$ 4,9 bilhões o valor do fundo eleitoral, ou seja, a verba pública
que será entregue aos partidos para financiar as candidaturas. Mas continuou
nas mãos do TSE a incumbência de fixar, por meio de resolução, o teto do valor
que cada candidato terá para gastar. É possível, portanto, que o TSE destine
para as candidaturas apenas a correção da inflação nos últimos quatro anos, e
não um valor proporcional à elevação do fundo eleitoral.
Deputados e senadores querem votar uma proposta legislativa para o próprio Congresso fixar os gastos de campanha. E vão consultar o TSE para saber se a aprovação de uma proposta desta natureza fere ou não o princípio da anualidade. Se o TSE estabelecer que a anualidade estará ferida, há risco de se abrir uma crise com o Legislativo. Por isso, a tendência, segundo fontes do tribunal, é responder que não estará quebrada a anualidade. Desarma-se a crise e caberá ao Congresso arcar como ônus de impopularidade que a iniciativa despertará.
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