Folha de S. Paulo
Ligeira mudança de humor de consumidores e empresários favorece o prestígio do governo
A confiança do consumidor e a dos
empresários da construção civil e da indústria aumentou em abril, mostram os
indicadores pesquisados pela FGV. Não é otimismo. A confiança ainda está no
nível da insatisfação, do pessimismo, mas aumentou. Vinha em geral em baixa
desde meados do ano passado.
Não quer dizer que vai haver uma virada
econômica, com aumento de consumo e, menos ainda, de investimento produtivo.
Mas a ligeira mudança de humor favorece o prestígio do governo.
Desde o início do ano, a votação de Jair Bolsonaro aumentou cerca de um ou dois pares de pontos. Mesmo com o repique da inflação, que continuou pelo menos até meados de abril, com a carestia da comida em terríveis 15% ao ano, em geral motivo de revolta ainda maior.
O assunto, pois, é mais político do que
econômico. A questão é saber o motivo dessa despiora de humores e se isso vai
durar.
O que haveria de novo?
O crescimento desde fins de 2021 não foi
tão baixo quanto se esperava. Economistas e bancões mais pessimistas revisaram
estimativas de pequena recessão para crescimento além de 0,5%. Na mediana das
previsões compiladas pelo Banco Central,
o PIB cresceria 0,65% neste 2022. Mas o refresco não parece vir daí.
Como já se escreveu nestas colunas, de
fevereiro de 2021 a fevereiro de 2022, o número de pessoas com algum trabalho
aumentou em quase 8 milhões. Nesta sexta-feira, vamos saber o que se passou em
março, mas os indícios são de que mais gente arrumou algum trabalho.
Segundo também os economistas da FGV,
parece que o consumidor ficou menos pessimista por causa de medidas do governo
tais como a liberação do saque parcial do FGTS ou a antecipação do 13° do INSS.
A gente ouve na rua as pessoas falando que vão sacar do FGTS.
Nas indústrias, o motivo talvez tenha sido
a descompressão de notícias ruins do início do ano: menos Covid, menos
problemas com fornecedores, redução do choque com a guerra. Na construção, há
mesmo alguma satisfação com perspectivas de meses adiante, além de ânimo de
contratar trabalhadores. Talvez as obras de estados e prefeituras, que estão
com os caixas cheios, estejam dando algum ânimo para o setor.
É preciso qualificar um pouco mais essa
redução do pessimismo. O consumidor está muito insatisfeito, pessimista como
não se via mesmo em muitos meses de epidemia em 2020 e 2021. Os empresários da
construção civil estão à beira de passar para o lado do "otimismo" no
indicador da FGV. A onda de aumento de pessimismo do empresário industrial, que
vinha desde agosto de 2022, amainou. Mas a confiança está em nível bem abaixo
do que se registrara de fins de 2016 até o início da epidemia.
Ou seja, são migalhas de redução de
desânimo.
Não dá para salvar o crescimento de 2022. A
renda (PIB) per capita vai ficar quase estagnada (a população cresce cerca de
0,7% ao ano, estima o IBGE).
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