Folha de S. Paulo
Entusiastas veem Bolsonaro em um bom momento
Luiz Inácio Lula da
Silva conhece o peso da caneta hoje nas mãos de Jair
Bolsonaro. Em maio de 1994, tinha 42% das intenções de voto contra 16% de
Fernando Henrique Cardoso. Em agosto, com a moeda do real em circulação, FHC
assumiu a liderança. Venceu em primeiro turno.
Semana passada, Bolsonaro deu uma
demonstração desse poder ao conceder
indulto ao deputado Daniel
Silveira. Afrontando o STF, o capitão não
só reacendeu o ânimo belicoso de seus apoiadores.
Com a mesma canetada, despertou também o espírito de corpo na Câmara. Salvaguardado por seus pares, Silveira foi eleito vice-presidente de comissão e indicado para a Comissão de Constituição e Justiça da Casa.
Os deputados não o fizeram por Silveira. E,
sim, por seus pescoços. Temendo futuros mandados de busca e apreensão, ou até
mesmo prisão, deputados da base do governo se uniram para acelerar a tramitação
de projetos que limitem o alcance das decisões do Judiciário contra
parlamentares.
Em golpe de sorte, Bolsonaro acabou também
por ganhar adesões nas Forças Armadas. Em meio ao embate com STF, vieram à tona
áudios apontando para a ocorrência de tortura
durante a ditadura. Essa revelação reavivou, no meio militar, a memória da
Comissão da Verdade instalada no governo Dilma. Sem alternativa, os militares
se alinharam com Bolsonaro.
Esses lances de abril deram tônus aos
apoiadores do presidente. Aliados comemoram até promessa de flexibilização da
política de publicação no Twitter,
rede que tem como marca um passarinho azul.
Para entusiastas, Bolsonaro vive um bom
momento. E tem ainda tinta na caneta para um pacote de bondades de cerca de R$
150 bilhões, incluindo auxílio Brasil (R$ 89 bilhões) e perdão da dívida dos
estudantes (R$ 38 bilhões).
Diferentemente de 1994, quando Itamar
Franco tinha alta aprovação, Bolsonaro enfrenta 55% de rejeição, segundo o
Datafolha. Em comum, o fantasma
da inflação. O que o governo dá a inflação come.
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