Inflação alta e disseminada
IPCA-15 chega a 12% em 12 meses, e quase
80% dos produtos subiram
Carolina Nalin / O Globo
Puxada pelo aumento nos preços dos
combustíveis e alimentos, a prévia da inflação oficial, medida pelo IPCA-15,
acelerou para 1,73%, acima da taxa de março (0,95%). É a maior alta desde
fevereiro de 2003 (2,19%) e a maior para um mês de abril desde 1995, quando o
índice foi de 1,95%.
Com o resultado, o IPCA-15 acumula alta de
4,31% no ano. Em 12 meses, chegou a 12,03%, a maior taxa desde novembro de
2003, quando foi 12,69%.
As variações, ainda que elevadas, vieram
abaixo das estimativas do mercado. Analistas projetavam alta de 1,85% no mês e
12,16% em 12 meses, segundo mediana da Reuters.
Os dados são do IPCA-15 (Índice Nacional de
Preços ao Consumidor Amplo 15) e foram divulgados pelo IBGE nesta quarta-feira.
O indicador teve as informações coletadas entre o dia 17 de março até o dial 13
de abril.
O resultado indica uma aceleração em relação ao índice de março e ao IPCA fechado do mês passado, quando a inflação ficou em 1,62% no mês. Aponta também para uma alta disseminada dos preços: oito dos nove grupos subiram em abril, sendo a exceção observada no grupo Comunicação (-0,05%).
Alta dos combustíveis pressiona indicador
Os reajustes concedidos pela Petrobras nas
refinarias no dia 11 de março - com altas de 18,8% no preço da gasolina, de
24,9% sobre o preço do óleo diesel e de 16% no preço do GLP, o gás de cozinha,
têm pressionado os preços na ponta e, consequentemente, puxado o indicador de
inflação para cima.
O grupo Transportes subiu 3,43%, puxado
principalmente pelo aumento no preço da gasolina. O combustível subiu 7,51% no
mês, sendo responsável por 0,48 ponto percentual do índice do mês. Também
subiram os preços do óleo diesel (13,11%), do etanol (6,60%) e do gás veicular
(2,28%).
Segundo dados da Agência Nacional do
Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), o preço da gasolina subiu pela
segunda semana seguida, ficando em R$ 7,270 na semana entre os dias 17 e 23 de
abril. É o maior valor nominal pago pelos consumidores desde 2004, quando a ANP
iniciou o levantamento semanal de preços.
O aumento nos preços dos combustíveis
também exerce uma pressão indireta sobre outros preços direcionados ao
consumidor.
As passagens aéreas subiram 9,43% em abril, enquanto os preços do seguro voluntário de veículo avançaram 3,03%, acumulando alta de 23,46% nos últimos 12 meses. Também foram registradas altas em abril nos preços dos táxis (4,36%), nas passagens de metrô (1,66%) e ônibus urbanos (0,75%).
Tomate sobe 26,17% no mês
O avanço dos preços em uma série de alimentos consumidos no dia a dia também segue pesando no bolso das famílias. A alimentação no domicílio subiu 3% em abril, puxada pela alta de 26,17% do tomate e de 12,21% do leite longa vida. Ambos contribuíram com 0,16 ponto percentual no resultado do IPCA-15.
Também tiveram altas expressivas a cenoura
(15,02%), o óleo de soja (11,47%), a batata-inglesa (9,86%) e o pão francês
(4,36%).
Já a alimentação fora do domicílio
desacelerou em relação a março. Enquanto a refeição passou de 0,25% em março
para 0,45% em abril, o lanche seguiu movimento inverso, passando de 0,92% para
0,07%.
No grupo Habitação, pesou a alta do gás de
cozinha, que subiu 8,09%. A segunda maior contribuição veio da energia
elétrica, (1,92%), com os reajustes de mais de 15% em concessionárias no
estado do Rio. Os preços do gás encanado também subiram no índice, com avanço
de 3,31%.
No segmento Vestuário, todos os itens registraram
alta, levando os preços do grupo a avançarem 1,97% no mês. A maior contribuição
veio das roupas femininas, com alta de 2,70%.
Já o grupo Saúde e cuidados pessoais,
embora tenha apresentado alta, desacelerou em relação a março por conta dos
itens de higiene pessoal (-0,87%), que haviam subido 3,98% em março. Os
produtos farmacêuticos, porém, subiram 3,37%, depois da autorização do reajuste
de até 10,89% no preço dos medicamentos a partir de 1º de abril.
Os demais grupos, Educação e Artigos de
residência, tiveram altas de 0,05% e 0,94%, respectivamente.
Perspectivas
O cenário de inflação persistente e
disseminada já deflagrado na divulgação do IPCA do mês de março levou analistas
a projetaram uma inflação
mais próxima de 8% e um ciclo de alta dos juros mais longo, com a taxa
básica de juros (Selic) chegando a 13,5%.Atualmente, a taxa está em 11,75% ao
ano.
Segundo boletim Focus, que reúne as
projeções de mercado, as expectativas de inflação subiram
de 6,86% neste ano, no relatório divulgado em 28 de março, para 7,65% nesta
semana. A expectativa, assim, é que a inflação encerre 2022 acima do dobro da
meta oficial da inflação para o ano, de 3,5%.
Caso seja confirmado, 2022 será o segundo ano seguido em que o Banco Central não consegue cumprir a meta de inflação.
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