O Estado de S. Paulo
Num momento perigoso, bolsonarismo
encontrou no Supremo um alvo fácil
Não é surpresa o regozijo com que muitos
setores da política registraram o mais recente ataque de Jair Bolsonaro ao STF.
A “Schadenfreude” (alegria pelas dificuldades alheias) se espalhou também pelo
Centrão, esse amplo grupo unido pelo interesse nos cofres públicos e
desinteresse em bagunça institucional.
A afronta de Bolsonaro aos tribunais superiores é pura tática político-eleitoral motivada pelo desprezo que ele nutre por instituições e limites ao que considera ser sua “missão divina”. O grave problema para o STF, explorado pelo bolsonarismo, é a percepção em parcela crescente do público segundo a qual a Suprema Corte se transformou há tempos numa instância política que só toma decisões idem.
Essas decisões não são percebidas como dirigidas apenas contra Bolsonaro, apesar do que dizem os seguidores dele. É pior: são vistas como desvinculadas do interesse público, contraditórias e têm como denominador comum a defesa de privilégios de uma casta no topo de um Poder que gera insegurança – o Judiciário.
Repete-se em alguma medida o ocorrido por
ocasião da Lava Jato. O “garantismo” no STF, isto é, a defesa das garantias
constitucionais, era pintado como “defesa dos corruptos” diante dos horrores do
sistema de roubalheira administrado pelo lulopetismo. No momento, o papel que o
STF cumpre de defender instituições da democracia contra ataques travestidos de
“liberdade de expressão” é pintado como “usurpação e interferência nos
Poderes”.
O que torna o momento político atual
perigoso, do ponto de vista das instituições, a começar pela da Justiça
Eleitoral (alvo preferencial do bolsonarismo), é o fato de a “politização” do
STF ou o “ativismo judicial” não serem “culpa” de um ou outro indivíduo. São
fenômenos que vêm se acentuando ao longo de décadas, e exacerbados num ambiente
político geral de demolição de princípios e valores éticos, morais e
sociais.
Algum alívio parece vir do espírito de
corpo de Congresso e Judiciário, que é coisa diferente do que defender
princípios, mas acaba funcionando nesse sentido. Assim, os presidentes das
Casas Legislativas reafirmam que só o Congresso tira mandato de quem foi
eleito. E o Judiciário reitera que cabe a ele estabelecer quem se torna
inelegível.
Quanto ao “golaço” de Bolsonaro contra o
STF, gera picos nas redes sociais, mas está distante da realidade da grande
massa de eleitores brigando com inflação. Ou seja, de escasso efeito eleitoral
amplo. Nas parcelas “pensantes” das elites consumindo política até ajuda o
adversário direto de Bolsonaro na difícil busca da respeitabilidade perdida.
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