Revista ISTOÉ
Graças a Lula, o PT pode apresentar algum crescimento no legislativo federal. Mas sem alterar sobremaneira a correlação de forças
Estudo sobre “Eleições Municipais na Pandemia”, organizado pelos cientistas políticos Antonio Lavareda e Helcimara Telles, mostra que o número de prefeitos filiados a partidos de direita aumentou de 29,8% para 54,3% de 2012 para 2020. Já o número de prefeitos de esquerda caiu de 40,5% para 24,4% nesse período. Partidos de centro e de centro-direita na Câmara dos Deputados receberam mais de 70 deputados durante a janela partidária, quando deputados federais podem mudar de legenda livremente sem correr o risco de perda de mandato. Partidos de esquerda perderam parlamentares – à exceção do PT, que ganhou três. A janela foi aberta em março e fechou no último dia 1º de abril.
Há uma forte correlação entre eleição de
prefeitos e eleição de deputados federais. Quando um partido elege um número
expressivo de prefeitos, tende a ter uma boa bancada na Câmara. Para citar um
exemplo: o MDB elegeu 65 deputados na eleição de 2014. Na de 2016, elegeu 1.044
prefeitos. Em 2018, a bancada caiu para 34 na Câmara. Na última eleição
municipal, em 2020, elegeu 784 prefeitos. Os deputados buscam se filiar a um
partido pelo qual tenham maior chance de serem eleitos. São analisadas várias
questões, tais como coligações locais, estrutura do partido, fundo partidário
etc. O inchaço de legendas de centro e de direita durante a janela reforça,
assim, a expectativa de que as siglas de centro e de centro direita tendem a
ter maioria na Câmara e no Senado. Já a esquerda deve se manter praticamente do
mesmo tamanho. Graças ao ex-presidente Lula, a exceção pode ser o PT, que pode
apresentar algum crescimento no legislativo federal. Mas sem alterar
sobremaneira essa correlação de forças.
Caso saia vitorioso das eleições
presidenciais de outubro, o ex-presidente terá, portanto, que buscar o apoio
desses partidos de centro e de centro-direita para formar maioria parlamentar.
E não será difícil, considerando a vocação governista do nosso Congresso. Ainda
assim, essa maioria pode não apoiar bandeiras que ele vem defendendo nesta
pré-campanha, como mudança na reforma trabalhista ou na autonomia do Banco
Central. Na hipótese de reeleição do presidente Jair Bolsonaro (PL), a situação
é um pouco diferente, pois o perfil do Congresso tende a ser mais alinhado com
suas teses liberais. A hipótese de vitória de uma terceira via, porém, é
remota. Mas, ao que tudo indica, esse viés político também não teria grandes
dificuldades de construir uma base parlamentar. Na economia, por exemplo, a
agenda da terceira via é liberal e semelhante à de Bolsonaro.
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