Valor Econômico
Tensão com PSB e rejeição a Freixo apontam
mudanças para campanha de ex-presidente no Rio
Depois de encaminhada a aliança com o PSD
em Minas Gerais, para construir um palanque de Lula no Estado, o PT volta sua
atenção para o Rio de Janeiro, onde dirigentes dizem que a situação está em
aberto.
No terceiro maior colégio eleitoral do
país, o candidato de Lula ao governo é Marcelo Freixo (PSB), mas movimentos
internos pressionam pela criação de um segundo palanque, mais centrista.
E de novo com o PSD, com quem o PT almeja
costurar uma tríplice aliança nos maiores Estados - São Paulo, Minas e Rio. E
preparar, quem sabe, o sonhado casamento nacional de Lula, não com sua agora
cônjuge Janja, mas com Gilberto Kassab.
O palanque no Rio passou a dar dor de
cabeça ao PT por duas razões. A primeira é a persistência do PSB em querer a
vaga de senador na chapa majoritária para o deputado federal Alessandro Molon.
Os petistas argumentam que o acordo prevê apenas a candidatura do presidente da
Assembleia Legislativa André Ceciliano (PT). Molon está à frente de Ceciliano
nas intenções de voto.
A segunda razão é o desempenho aquém do
esperado de Freixo. Com alta rejeição nas pesquisas, apesar da tentativa do
parlamentar, neste ano, de se livrar da pecha de radical, o PT acendeu o alerta
diante da possibilidade de Freixo prejudicar a eleição de Lula no Rio.
Antes na dianteira, o deputado vem sendo ultrapassado pelo governador Cláudio Castro (PL), candidato do presidente e correligionário Jair Bolsonaro, que também sobe, enquanto Lula oscila para baixo.
A percepção é que o palanque com Freixo tem
estreitado muito a campanha de Lula no Estado. O problema foi discutido no
Grupo de Trabalho Eleitoral (GTE) do PT nacional, na terça-feira, quando
dirigentes defenderam a encomenda de novas pesquisas quantitativas e
qualitativas e a ampliação da política de aliança com outros partidos.
O plano de aproximação com o grupo do
prefeito da capital, Eduardo Paes (PSD), cujo candidato a governador é o
ex-presidente da OAB Felipe Santa Cruz, voltou à mesa. Coordenador do GTE e
vice-presidente nacional do PT, o deputado federal José Guimarães reconhece que
há diálogos com Paes, que também tem interesse no apoio de Lula. O parlamentar,
porém, prefere dizer que as conversas não implicam a construção do palanque
duplo no Estado, embora colegas do partido já falem da possibilidade.
Há um tanto de cautela e o primeiro passo
da cúpula do PT é questionar se o PSB vai mesmo cumprir o acerto inicial sobre
o Senado. Em nota do GTE assinada por Guimarães, o partido disse ontem que
resolve “solicitar ao PSB a validação do acordo nacional, que inclui a
manutenção” das candidaturas de Freixo e de Ceciliano. O presidente nacional do
PSB, Carlos Siqueira, prefere o silêncio no momento, conforme disse à coluna.
Parte da saia-justa ocorre pela própria
tensão interna entre Freixo e Molon, que têm um histórico de rivalidade por
votos e posições na esquerda do Rio. No PSB, Molon é mais veterano, filiou-se
em 2018, além de ser o presidente estadual. Freixo, que está há 11 meses, é
apontado como um “cristão-novo”.
“Siqueira não é um entusiasta da
candidatura do Freixo”, afirma o secretário nacional de comunicação do PT
Jilmar Tatto, que participou da reunião do GTE. Em janeiro, um episódio causou
irritação na cúpula do PSB quando Freixo defendeu a candidatura de Fernando
Haddad (PT) a governador de São Paulo, em detrimento de Márcio França, quadro
histórico do PSB. Dada a sua ligação com Lula, o deputado passou a ser visto
como um infiltrado do PT entre os pessebistas.
Outra parte do tensionamento ocorre pela
recusa do PT em aceitar que ambos, Molon e Ceciliano, sejam lançados pela
coligação ao Senado, sob a alegação de que dividirão votos da esquerda. “Essa
identidade de campo é muito importante. É uma eleição que vai ser polarizada
nacionalmente e no Rio”, diz a presidente do PT, Gleisi Hoffmann.
A identidade de campo, porém, é um conceito
elástico para Ceciliano. O presidente da Assembleia Legislativa não apenas é
refratário a Freixo, ao ignorá-lo em declarações e discursos - como no
lançamento de sua pré-candidatura, há três semanas - ou ao deixar de comparecer
ao aniversário do pessebista, no mês passado.
Também é elogioso a Castro. A Ceciliano é
atribuído o controle de uma das pastas mais poderosas do governo, a de
Infraestrutura e Obras.
O petista também tem relação com a
centro-direita e a ultradireita bolsonarista, como o deputado federal Otoni de
Paula (MDB), que, no início do mês, o levou à Assembleia de Deus de Madureira,
onde ajoelhou sob as benções do bispo Abner Ferreira.
Otoni é o mesmo que, no início de abril,
chamou o ex-presidente de “Luladrão” na tribuna da Câmara e afirmou que quem
incomodasse parlamentares em casa - como Lula propôs a sindicalistas para terem
projetos aprovados no Congresso - seriam “vagabundos” recebidos à bala.
A candidatura de Ceciliano já vem
funcionando como um abre-alas para o voto Lula-Castro, o palanque informal que
reúne uma geleia geral de políticos em meio, paradoxalmente, a uma eleição
nacional polarizada. O que está em jogo, caso se confirme um palanque duplo
para Lula no Rio, é uma despolarização da disputa estadual.
Da parte do governador a despolarização é,
há muito, estratégia dominante. Em declaração a “O Globo”, nesta semana, disse
ser apoiador de Bolsonaro, mas que não criticará Lula. Da parte do PT, mesmo
que o PSB retire a pré-candidatura de Molon, haveria dificuldades com o
palanque único de Freixo. “O problema não é só Molon, é estrutural. Queremos
ter 70% dos votos no Rio, e não 20%, 30% com Freixo”, afirma Tatto, com a
ressalva de estar emitindo opinião própria, não em nome do GTE.
“Temos que sentar todos em busca de um
grande acordo”, defende. Para o dirigente petista, caso o PSB mantenha o nome
de Molon, o PT ficaria livre para buscar novos parceiros. O PSB formaria uma
chapa com Freixo e Molon, e o PT construiria o novo palanque oficial de Lula.
Na nova equação, o PSD de Paes traria a reboque o PSDB-Cidadania de Rodrigo
Maia e a coligação poderia contar ainda com o PDT de Rodrigo Neves, a depender
da confirmação da candidatura presidencial de Ciro Gomes. Ceciliano poderia
concorrer a governador ou a nada.
Outra fonte graduada da cúpula do PT vai na mesma direção: “Deve haver algum tipo de tensionamento para que a campanha do Lula possa ser mais ampla do que está no momento”.
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