PSDB busca saída para Doria e tenta blindar disputa em São Paulo da rejeição do ex-governador
Enquanto tenta buscar saída consensual e
sem judicialização com ex-governador para sacramentar apoio a Tebet, tucanos
montam estratégia para afastá-lo da pré-candidatura de Garcia e blindar
alianças em São Paulo, Rio Grande do Sul e Pará
Bianca Gomes / O Globo
SÃO PAULO — Para livrar-se da
pré-candidatura de João Doria à Presidência, o PSDB está diante de uma
encruzilhada. Enquanto tenta, ainda sem sucesso, encontrar uma saída
minimamente consensual com o ex-governador e evitar judicialização, tucanos
tentam afastá-lo do principal objetivo da legenda: manter a hegemonia no
comando de São Paulo, estado que a sigla governa ininterruptamente desde 1995.
Mais do que pesquisas internas qualitativas
e quantitativas, a escolha pelo nome da senadora Simone Tebet (MDB) como
pré-candidata da terceira via foi uma decisão eminentemente política e que teve
como pano de fundo a prioridade do PSDB para São Paulo. Soma-se a isso a
possibilidade de, com Tebet, os dois partidos acertarem palanques conjuntos em
pelo menos três estados.
Na avaliação da cúpula do PSDB, a
pré-candidatura de Doria tornaria inviável a vitória de seu sucessor, o atual
governador Rodrigo Garcia. Isso porque Doria deixou o governo paulista com
apenas 23% de aprovação e 36% de rejeição, segundo o Datafolha.
Arriscar uma eventual derrota no governo de São Paulo significaria, para o PSDB, perder projeção nacional e enfraquecer o partido, que venceu sete eleições seguidas no estado. Diante desse cenário, a candidatura de Tebet foi vista pelo PSDB oportunidade perfeita para rifar o ex-governador paulista. E as pesquisas quantitativa e qualitativa eram o embasamento técnico que faltava para justificar uma decisão política.
“Golpe” como argumento
Apesar da sinalização pró-Tebet de ontem,
Bruno Araújo, Baleia Rossi e Roberto Freire — presidentes do PSDB, MDB e
Cidadania, respectivamente — já haviam acertado o nome da senadora em uma
reunião ocorrida há cerca de um mês, logo depois de Luciano Bivar (União
Brasil) abandonar o barco da terceira via. Nesse intervalo, Doria ampliou seu
isolamento, e Araújo ganhou o aval de toda a Executiva para tirar o
ex-governador da disputa.
A ideia de apoiar Tebet ainda ganhou força
com a possibilidade de MDB e PSDB conseguirem acertar palanques conjuntos em
três estados. Em São Paulo, os emedebistas indicaram Edson Aparecido para a
vice de Garcia. No Rio Grande do Sul, há negociações para o deputado Gabriel
Souza (MDB) ser vice de Eduardo Leite (PSDB) e, no Pará, os tucanos querem
escolher o vice do pré-candidato emedebista à reeleição, Helder Barbalho (MDB).
Ainda que apoiada em pesquisas, a escolha
de Tebet não foi bem recebida por Doria, que, antes mesmo da escolha do nome da
senadora ser confirmada, já havia ameaçado recorrer à Justiça caso não fosse o
candidato. Doria está concentrado em elaborar sua defesa e amplificar o
discurso de que é vítima de um “golpe” após vencer as prévias.
Em meio a essa encruzilhada, o partido
agora estuda qual destino dar ao ex-governador paulista. Na próxima
segunda-feira, Araújo e os líderes do partido devem se reunir com Doria em seu
escritório na capital paulista para comunicá-lo oficialmente sobre a decisão de
apoiar Tebet e oferecer-lhe um “prêmio de consolação”. Uma das possibilidades é
a vice na chapa da senadora ou mesmo uma vaga ao Senado pela sigla. Esta
última, porém, continuaria sendo prejudicial a Garcia pela proximidade na
chapa.
Pessoas ligadas a Araújo acreditam ser
difícil chegar a um acordo com o ex-governador e, por isso, já há um
entendimento de que o partido terá de correr o risco da judicialização caso
Doria insista. Aliados do presidente tucano acreditam que podem obter decisão favorável
na Justiça Eleitoral porque Doria já declarou publicamente ser favorável a um
acordo com os demais partidos do chamado “centro democrático”.
Carta conjunta
Essa questão foi inclusive lembrada em uma
carta divulgada pelas três siglas ontem à noite:“Nos últimos meses, os
pré-candidatos externaram publicamente, em diversos momentos, a compreensão de
que estávamos tratando de algo maior do que uma escolha partidária”, diz a
nota, que ainda cita declaração de Doria em evento empresarial, no dia 23 de
março, na qual ele disse: “‘Em nenhuma dessas reuniões houve qualquer
colocação, de qualquer partido e de qualquer candidato no sentido de que a
prerrogativa fosse seu nome ou seu partido. O mais importante é a defesa do
Brasil e dos brasileiros”.
Caso Doria não aceite ser vice de Simone, o
nome de consenso entre as três siglas é Tasso Jereissati (PSDB).
Colaborou Gustavo Schmitt
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