O Globo
O PSDB quer implodir um candidato com 2% de
intenções de voto para apoiar outra candidata com 1%. A troca tem pouco a ver
com as chances eleitorais de Simone Tebet. O real objetivo dos tucanos é se
livrar de João Doria.
O ex-governador paulista venceu as prévias
do partido, que custaram R$ 12 milhões aos cofres públicos. Ganhou, mas não
deve levar. Empacado nas pesquisas, ele foi abandonado pela cúpula da sigla. O
tiro de misericórdia veio de seu sucessor no Palácio dos Bandeirantes.
Candidato à reeleição, Rodrigo Garcia
decidiu se distanciar de Doria, de quem foi vice até o mês passado. Teme que a
impopularidade do padrinho inviabilize sua própria campanha.
Em entrevista ao jornal O Estado de S.
Paulo, o governador fez elogios a Tebet e endossou a manobra para descartar o
correligionário. “O meu candidato a presidente é a terceira via. Simples
assim”, declarou.
A operação para rifar o presidenciável foi pouco sutil. PSDB, MDB e Cidadania encomendaram uma pesquisa para definir o rumo da tal terceira via. Puro pretexto para decretar a inviabilidade de Doria, que agora se diz vítima de um golpe.
Segundo dirigentes tucanos, o ex-governador
não conseguiu se mostrar um candidato competitivo. Pode ser, mas Tebet foi
lançada pelo MDB há seis meses e nunca passou de 1%.
A senadora também está longe de ser
unanimidade na própria sigla. No Nordeste, caciques como Renan Calheiros e
Eunício Oliveira já fazem campanha pelo ex-presidente Lula. No Sul e no
Sudeste, emedebistas não disfarçam o apoio a Jair Bolsonaro.
Filha de uma velha raposa do MDB, Tebet
sabe que o partido costuma abandonar seus candidatos à própria sorte. Em 1989,
Ulysses Guimarães amargou um humilhante sétimo lugar. Em 1994, Orestes Quércia
terminou atrás do nanico Enéas Carneiro. Em 2018, Henrique Meirelles teve 1%
dos votos, menos que o folclórico Cabo Daciolo.
Nas outras cinco eleições pós-ditadura, a
sigla admitiu sua vocação para o adesismo. Ficou em cima do muro ou apoiou
presidenciáveis de outras legendas.
O PSDB cultivava o hábito de levar suas
candidaturas a sério. Rompeu a tradição em 2018, quando Geraldo Alckmin foi
deixado ao relento. Para surfar a onda da extrema direita, Doria chegou a
fundir seu sobrenome ao de Bolsonaro, inventando a chapa “Bolsodoria”. Quatro
anos depois, o tucano vive o dia da caça.
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