Cúpula do PSDB tenta evitar que a crise se prolongue até a convenção, sob o risco de prejudicar candidaturas estaduais e à Câmara
Por Marcelo Ribeiro, Raphael Di Cunto e
André Guilherme Vieira / Valor Econômico
BRASÍLIA e SÃO PAULO - Com a decisão dos
presidentes do PSDB, MDB e Cidadania de apoiarem junto às direções partidárias
a senadora Simone Tebet (MDB-MS) como candidata única à Presidência, o
pré-candidato tucano João Doria tenta ganhar tempo para se viabilizar. Doria
pretende levar o debate até as convenções partidárias, previstas para serem
realizadas entre julho e agosto.
O primeiro passo da estratégia de Doria
para tentar postergar a escolha do candidato único desses partidos será
questionar na segunda-feira, em reunião com lideranças do PSDB, a pesquisa que
levou os dirigentes a defender Simone Tebet como possível presidenciável. O
ex-governador tem levantado dúvidas não só sobre o critério de usar pesquisa
para definir o nome, mas também sobre os resultados do levantamento, que diz
não ter tido acesso.
Segundo apurou o Valor, Doria pedirá tempo para
se viabilizar.
Na quarta-feira, os presidentes das três
siglas escolheram Tebet e disseram que a decisão se baseou em pesquisas
quantitativa e qualitativa feitas no fim de semana passado, mas que não foram
divulgadas por não terem sido registradas no Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
Doria diz que desconhece os números e
afirma que não há elementos concretos para tirá-lo da disputa agora, segundo
seus aliados. Apoiadores do ex-governador dizem ainda que o tucano está à
frente da senadora em pesquisas. “Quem viu a pesquisa? Quais os resultados da
pesquisa? A pesquisa é secreta?”, disse o ex-governador em caráter reservado,
de acordo com relatos.
A tendência dentro do PSDB, no entanto, é
que a ofensiva de Doria pelo adiamento da escolha não surta efeito e que os
dirigentes de PSDB, Cidadania e MDB defendam o nome de Tebet com suas
lideranças.
Se isso se concretizar, o segundo passo da estratégia de Doria será o de recorrer ao diretório nacional do PSDB, que é mais amplo que a Executiva e tem 170 integrantes.
“Foi conferido ao João Doria, pelos
filiados, em um processo legitimado pela executiva do partido, que ele é o
candidato a presidente porque ganhou a prévia”, diz o tesoureiro do PSDB
nacional e aliado do ex-governador, César Gontijo. “Somente o próprio Doria
pode modificar essa questão, se ele desistir de disputar a eleição
presidencial”, afirma.
O terceiro passo de Doria será a aposta na
convenção do PSDB para consolidar sua pré-candidatura à Presidência. O tucano
foi escolhido há seis meses, em novembro de 2021, pelo partido para ser o
presidenciável nas prévias nacionais. O ex-governador tem dito que as
articulações do presidente nacional da sigla, Bruno Araújo, para tirá-lo da
disputa são uma tentativa de golpe e ameça judicializar a definição. A
convenção nacional do PSDB será em 25 de julho e, até lá, a expectativa de
aliados de Doria é que a legenda continue mergulhada em uma crise.
A defesa de Doria é capitaneada pelo
especialista em Direito Eleitoral Arthur Rollo. Um eventual questionamento
jurídico deve reforçar a tese de que o resultado da prévia do PSDB não pode ser
excluído na negociação com os outros partidos.
Advogados especializados em legislação
eleitoral avaliam que há chances de Doria vencer, caso decida pela
judicialização do processo. “Considerando os termos do estatuto do PSDB e a
realização das prévias partidárias, da qual João Doria saiu vencedor, acredito
que ele tenha uma boa probabilidade de êxito na Justiça Eleitoral para fazer
valer o resultado das prévias”, diz Hélio João Pepe, sócio do SGMP Advogados.
“Alterar a forma de escolha de um
presidenciável - que alçou essa condição após cumprimento de regras internas do
partido - parece reeditar as regras do jogo democrático enquanto ele se
desenrola”, diz Renan Albernaz, doutorando em Direito Constitucional. “A troca
de prévia partidária por testes de pesquisa de intenções de voto pode desafiar
possíveis medidas judiciais.”
Fontes próximas a Doria relataram que,
apesar dos questionamentos, o paulista pretende investir no diálogo para
convencer os correligionários de que precisa de mais tempo para comprovar que
sua postulação pode decolar.
Aliados argumentam que o ex-governador
paulista deixou o cargo apenas em março e que se dedicou a pré-campanha a
partir de abril. E citam ainda que dois feriados inviabilizaram agendas
eleitorais em duas semanas diferentes neste período.
Doria tem feito reuniões e encontros
reservados na tentativa de reverter a decisão do PSDB. O presidenciável irá a
Goiás encontrar o ex-governador Marconi Perillo, que também é contrário à
escolha de Tebet. Na viagem às cidades de Goiânia e Trindade, Doria se reunirá
com lideranças políticas e informou, por meio de sua assessoria de imprensa,
que não atenderá jornalistas.
A crise que o tucano atravessa em seu
partido, correndo o risco de ficar isolado, sem mandato, e ter sua ascendência
sobre o PSDB severamente reduzida, levou à reversão da lógica de super
exposição midiática adotada nos mandatos de prefeito de São Paulo e de
governador.
A cúpula do PSDB tenta evitar que a crise
se prolongue por mais dois meses, até as convenções, sob o risco de prejudicar
candidaturas estaduais e atrapalhar a tentativa de eleger mais deputados
federais.
A maioria dos dirigentes tucanos deve
reforçar a Doria os obstáculos de sua postulação e tentará convencê-lo que o
melhor para todos é que ele desista o mais breve possível. Para o comando do
partido, acatar o calendário que será sugerido por Doria significaria deixar a
legenda “à mercê de uma sangria desatada”.
A expectativa é que, se esse desfecho se concretizar no curto prazo, o partido poderá manter candidaturas competitivas em alguns Estados e até mesmo “salvar” a postulação do governador de São Paulo e candidato à reeleição, Rodrigo Garcia. O governador ainda patina nas pesquisas e tenta se descolar de Doria e da rejeição de seu antecessor para tentar avançar nas sondagens e ter chances de chegar ao segundo turno. Além do fim da crise, a eventual desistência de Doria viabilizaria a transferência de mais recursos para financiar campanhas regionais.
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