Valor Econômico
Entrar
para a política tem um preço, e ele é alto
Nas
duas últimas colunas demonstrei como a política oferece diferentes mecanismos
para a perpetuação no poder de quem já desfruta de suas benesses. Do uso do
fundão eleitoral e do orçamento secreto à exploração dos sobrenomes
tradicionais, possuir um cargo eletivo constitui uma força desproporcional na
disputa eleitoral.
Embora
digam que a taxa de renovação nas eleições de 2018 foi elevada, dos 513
deputados eleitos em 2018 pelo menos 427 (ou seja, 83,2%) já tinham exercido
mandatos eletivos, eram parentes de políticos ou tinham ocupado posições de
ministros ou secretários de Estado anteriormente.
Estar inserido nas máquinas partidárias ou em famílias tradicionais é um atributo muito valioso, pois não é fácil ser eleito no Brasil. As disputas se dão em distritos eleitorais muito grandes e populosos (os Estados) e é preciso vencer a concorrência de centenas de adversários, dispersos por dezenas de partidos políticos. Tamanha pulverização de candidaturas em meio a legendas que não tem quase nenhum substrato programático exige que o político, para se tornar viável, seja bastante conhecido. E isso, em geral, custa dinheiro.
Embora
desde a Proclamação da República não existam mais critérios de renda para se
elegerem os representantes do povo no Parlamento, ter um patrimônio alto
continua a ser uma forma eficiente para contornar os obstáculos da política
tradicional e se tornar deputado federal ou senador.
Na
última eleição geral, dezoito deputados novatos chegaram a Brasília empregando
pelo menos R$ 100 mil do próprio bolso no financiamento de suas campanhas (veja
o gráfico). A campeã nesse quesito foi Paula Belmonte, que utilizou fabulosos
R$ 2,4 milhões para obter cada um dos 46.069 votos recebidos. Segundo dados
declarados ao Tribunal Superior Eleitoral, Belmonte possuía em 2018 um
patrimônio de R$ 5,6 milhões, grande parte proveniente de ações de empresas em
sociedade com o marido, o advogado Luís Felipe Belmonte - ele também outro
arrivista na política, visto que é suplente de senador.
No
topo do ranking dos novatos abonados estão empresários do setor de segurança
privada (Igor Timo, R$ 2,1 milhões), supermercados e distribuição (Hercílio
Coelho Diniz, R$ 1,98 milhão, e Glaustin da Fokus, com R$ 1,83 milhão) e de
empresas do ramo da educação privada - o falecido deputado Luiz Flávio Gomes,
com R$ 1,59 milhão, e Haroldo Cathedral, que empregou pouco mais de R$ 1
milhão.
Ao
permitir que candidatos empreguem somas elevadas do patrimônio pessoal ou
familiar na cobertura das suas despesas eleitorais, a legislação torna o jogo
político enviesado em favor dos mais ricos. E quando o capital político se soma
ao poderio financeiro, a resultante pende a favor da concentração de renda e de
poder.
Nossa
história é repleta de empresários que se elegeram e exerceram seus mandatos
para promover interesses pessoais. Em algumas situações, porém, o envolvimento
de ricaços na política faz parte de uma estratégia setorial. Nesse quesito, o
agronegócio brasileiro é o caso de maior sucesso.
Enquanto
muitos setores exercem pressão na política por meio de lobby ou doações de
campanhas para políticos, lideranças do setor agropecuário decidiram dispensar
intermediários e eleger seus próprios representantes como deputados, senadores
e governadores. Cobrindo os elevados custos das campanhas com recursos
pessoais, grandes produtores rurais se lançaram na política e constituíram, no
Congresso Nacional, o mais coeso e influente grupo de parlamentares. Imiscuídos
em diversos partidos, a poderosa bancada ruralista promove não apenas seus
pleitos corporativos - da obtenção de crédito subsidiado à autorização para o
uso de armamento pesado para a defesa de suas propriedades - mas também usa seu
peso a favor de qualquer projeto político que julgarem conveniente.
Desde
2019, a legislação eleitoral limita o emprego de patrimônio pessoal a 10% do
total de gastos permitido para cada cargo. Essa limitação da legislação
eleitoral, porém, é inócua, visto que o candidato rico, sem grandes
dificuldades, pode recorrer a cônjuges, filhos, irmãos e outros parentes para
canalizar sua poupança individual para seu comitê de campanha.
Quando
o Supremo Tribunal Federal, em 2015, proibiu as empresas de realizarem doações
eleitorais, ele baseou sua decisão no argumento de que essa era uma forma de se
corromper o funcionamento da democracia. Se a intenção era eliminar a
influência do dinheiro na política, o trabalho ficou incompleto.
*Bruno Carazza é mestre em economia e doutor em direito, é autor de “Dinheiro, Eleições e Poder: as engrenagens do sistema político brasileiro” (Companhia das Letras)”
3 comentários:
Milhões nas contas bancárias, família influente e conhecida, gosto pelo poder, pouca inteligência ou cabeça fraca, subserviência... Receita de sucesso no bolsonarismo!
Quem da menos despesas no cartão corporativo? Creio que vou com este que sai mais em conta para o meu bolso. Com Lula não precisamos sustentar os militares no Viagra também
E olha que o Viagra nem é caro,imagine os outros produtos?
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