O Estado de S. Paulo
O problema é se o Fed errar a mão nos juros e causar uma queda do PIB maior do que a planejada
É quase unânime a aposta do mercado de que,
para quebrar a escalada dos preços na economia, o Federal Reserve (Fed) terá de
subir mais os juros e produzir uma recessão nos Estados Unidos, mas o que os
dirigentes do principal banco central do mundo ainda não disseram – nem os
analistas chegaram a um consenso a respeito – é quanto o desemprego precisa
aumentar e o gasto dos consumidores tem de esfriar para que a inflação
americana volte a convergir para a meta de 2%.
A expectativa é de que o Fed irá aumentar os juros, hoje, em 0,75 ponto porcentual, levando a taxa básica para uma faixa entre 2,25% e 2,50%. Esse patamar é considerado como o atual nível neutro dos juros americanos, ou seja, que não estimula nem contrai o crescimento econômico.
Mas o próprio presidente do Fed, Jerome
Powell, já sinalizou que será preciso levar os juros para o nível restritivo e,
por tabela, produzir uma contração da demanda. O que interessa agora não
somente aos investidores, mas também a outros países dependentes do desempenho
da economia americana, incluindo o Brasil, é saber quão rápido o Fed levará os
juros para o nível restritivo e até onde aumentará a taxa básica.
No momento, os contratos futuros de juros
embutem a aposta de que a taxa básica nos
EUA irá encerrar 2022 a 3,5%. Mas não são
poucos os economistas que projetam juros americanos em 4% no fim deste ano. Por
outro lado, há quem acredite que, quando ficar mais evidente uma desaceleração
mais forte da economia, o Fed vai “amarelar” e não entregar todas as altas de
juros projetadas pelo mercado.
Assim, a expectativa em relação ao desfecho
da reunião de política monetária, hoje, é se, no comunicado que acompanhará o
anúncio da decisão ou na entrevista que Powell concederá à imprensa logo em
seguida, o Fed seguirá focado somente nos índices de inflação ou se mostrará
mais sensível à incipiente perda de fôlego da economia americana.
Depois do índice de preços ao consumidor de
julho, que registrou alta anual de 9,1%, recorde em quatro décadas, fica
difícil ver o Fed já deixando de focar na inflação e suavizando a sinalização
para os juros no curto prazo. Se subir mesmo para 3,5% no fim do ano, a taxa
básica será elevada o suficiente para conter um núcleo da inflação (que expurga
preços voláteis, como combustíveis e alimentos) rodando a 5,9%, como foi a alta
anual em julho?
Sem gerar alguma recessão, o Fed não conseguirá combater a disparada nos preços. O problema é se errar a mão nos juros e provocar uma queda do PIB mais severa do que a planejada.
Um comentário:
Economia é um assunto árido,mas eu gosto de aprender um pouco de tudo.
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