Folha de S. Paulo
Equipe de Augusto Aras trata presidente
como vítima de seus interesses políticos e do próprio obscurantismo
A Procuradoria-Geral da República conseguiu
emoldurar um retrato da incompetência de Jair Bolsonaro. Foi um acidente, é
claro. A equipe de Augusto Aras se esforçou tanto para
proteger o presidente das acusações da CPI da Covid que acabou
reconhecendo uma ficha corrida de negligência, escolhas erradas e atrocidades
do governo na pandemia.
A vice-procuradora Lindôra Araújo trata Bolsonaro como uma vítima de seus interesses políticos e do próprio obscurantismo. Ao livrar um presidente que incentivou a exposição do país ao vírus sob a falsa proteção da cloroquina, a PGR argumentou que "ele acreditava sinceramente que o uso desses fármacos auxiliaria no combate à doença".
Lindôra também alega que Bolsonaro nunca
atuou "com a intenção de gerar risco" aos cidadãos por recusar o uso
de máscaras. A prova disso, segundo ela, é que o presidente sempre ignorou o
equipamento, o que seria "um padrão de conduta que guarda sintonia com seu
agir político desde o início da pandemia".
A
auxiliar de Aras vai longe para defender Bolsonaro. Afirma que as
escolhas do governo eram parte de uma "lógica para o enfrentamento do
cenário pandêmico" e que o presidente da "gripezinha" não
desconsiderou a gravidade da doença, mas preferiu levar em conta a economia.
Um bom advogado não teria desenvoltura para
transformar tantos desatinos em linhas de defesa. Mas a PGR basicamente afirma
que o presidente não deve ser responsabilizado porque age por razões políticas
e escolheu acreditar
em algo que os cientistas diziam ser absurdo.
Seria pedir demais que a Procuradoria-Geral
fizesse seu trabalho, mas Lindôra faz questão de enterrar essa ilusão: "A
discordância desse posicionamento, se merece alguma reprovação, deve ser
dirimida no campo político, não no processo penal".
Em breve, os amigos de Bolsonaro na PGR
poderão livrá-lo mais uma vez. Basta dizer que ele "acredita
sinceramente" que as urnas são fraudadas e que o golpismo "guarda
sintonia com seu agir político".
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